Como “alfacinha de gema”, nascido em Benfica e, criado nesta grande zona de Lisboa, não posso deixar passar o momento das festividades da cidade, não só para enaltecer este acontecimento festivo, mas também escrever modestas palavras, sobre um outro alfacinha, também de “gema”, originário da freguesia de S. Vicente que é, de certo modo, o “responsável” por toda esta alegria e vivacidade que, me faz recordar, hoje, quanto em miúdo, mesmo sem qualquer trono montado, no meu Bairro das Furnas, a “ajuda” que o seu nome prestou nos meus "ganhos” para as gulosices, na compra dos bilas, das pevides e dos amendoins. E ainda a sua “responsabilidade”, já na minha adolescência, pelos “affaires” com as raparigas, aquando nos bailaricos armados, não só no meu bairro, como nas Águas Boas, por detrás do chafariz em frente à Pedro Santarém, no Calhau, em outros arraiais populares, nos largos, nas vielas, nas ruas de outros bairros e, nas Colectividades desta minha cidade que é Lisboa.
Como eu recordo as fogueiras que se ateavam para assar as sardinhas e, ter a oportunidade de ver as pernas às raparigas quando por elas saltavam, no queimar das alcachofras em flor, para aferir, dias depois, se elas voltavam a florir. Quando assim não fôra, era sinal que o amor por quem se queimou as alcachofras, não tinha reciprocidade.
Ou ela não usa calças
Ou as tem na lavadeira
Dei por isso ontem à noite
Quando saltava à fogueira
Ou as tem na lavadeira
Dei por isso ontem à noite
Quando saltava à fogueira
Stº António, diz-se, que é conhecido como o protector dos pobres, do auxílio na busca de pessoas ou objectos perdidos e, amigo nas causas do coração, nomeadamente no auxílio às moças solteiras a encontrar noivo. Nasceu, em Lisboa, no dia 15 de Agosto de 1195, e morreu, em Pádua (Itália), aos 36 anos de idade.
Lisboa está cheia de testemunhos do Santo António. Mas o maior, é a igreja, de seu nome, situada na freguesia onde nasceu. Foi destruída pelo terramoto de 1755 e, reconstruída 10 anos mais tarde. Para quem não saiba, a sua construção foi financiada, em parte, pelas doações entregues pelos pobres às crianças de Lisboa que, andavam pelas ruas pedindo um tostãozinho para o Santo António. Razão pela qual, o chão da capela esteja coberto de moedas. Hoje, é muito raro, no bairro mais popular que seja, ver uma criança a pedir umas moedas para as gulosices ou para enfeitar o trono do Santo e, provavelmente as meninas solteiras já não lhe pedem um namorado.
Se eu fosse o cravo vermelho
Que trazes sobre o teu peito
Por muito que fosse velho
Não te guardava respeito
Que trazes sobre o teu peito
Por muito que fosse velho
Não te guardava respeito
As festividades da cidade desenvolvem-se por vários dias, mas é na noite de 12 para o dia 13 de Junho, o feriado municipal em honra do Santo, que se verifica maior frequência da população nos arraiais montados pelos bairros populares, onde os vasos com os manjericos enfeitados com cravos e pequenas bandeiras de papel, ostentam frases/rimas bem populares, que se esgotam nas mãos das vendedeiras.
E, dançando ao som das músicas dos quintetos, ou ouvindo o fado aqui-e-ali, os populares não perdem a oportunidade nestes dias de comer, servido na malga de barro e, bem quentinho, o caldo verde, as sardinhas assadas em cima do pão e, as fêveras de porco assadas na brasa, tudo regado com vinho a granel, sangria ou cerveja, depois de assistir, ou não, na Av. da Liberdade, ao desfile das marchas populares dos principais bairros de Lisboa e, ao fogo-de-artifício lançado dos barcos estacionados no rio Tejo.
Contam os entendidos que as Marchas Populares no País têm como exemplo, as marchas que o povo francês, no final do sec. XVIII, realizava em Junho. A estas marchas que chamavam “marche aux falambeaux” tinham como objectivo celebrar a tomada da Bastilha. O povo francês, transportando archotes acessos na mão, dançava ao som das fanfarras. Com as invasões napoleónicas – a Marche aux Flambeaux – o povo português assumiu o costume e, passou a chamar-lhe a - Marcha ao Flambó -. Só que em vez de archotes acesos usava balões de papel enfiados num pau. No ano de 1932, em Lisboa, foram incluídas nas festividades em louvor de Stº António.
Cravo, manjerico e vaso/E uma quadrinha singela/Tudo lhe dei, não fez caso/Pronto, não caso com ela.