quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

QUANDO O COMPORTAMENTO DE UM SIMPLES GATO NOS FAZ LEMBRAR HISTÓRIAS TRISTES “TINHAS RAZÃO, COM O EXCESSO DE ROUPA QUE ME FORÇASTE LEVAR” A TROCA VALEU-ME MUITAS VEZES PARA MATAR A FOME O felino que mora comigo na aldeia do Pombalinho, é um gato oriundo da rua onde está sitiada a morada da casa. Este “meu” gato tem todos os recursos para satisfação das suas necessidades. Não tem a porta fechada. Tem ração própria q.b., Não tem obstáculos ao seu misticismo normal da sua condição de felino. Adora passear e de trepar (sem estorvo) às árvores do quintal. Gosta de caçar rolas e ratos. Tem o veterinário à disposição. Mas também tem momentos bem desagradáveis, não poucas vezes irritantes, de fazer “saltar os cabelos”, principalmente quando transporta para casa o espólio com vistas a oferta-lo ao seu tutor. Interessante é vê-lo quando caça passarinhos. Inteligentemente escondido entre as flores que encobrem a rede do galinheiro, espera que as pequenas aves se “esbanjem” no alimento dos galináceos. No regresso, pelos buracos da rede, as aves, algo pachorrentas por via do papo cheio, é chegado o momento para o ataque do felino. Com sucesso, nada delicado, come-os deixando a ração que lhe é destinada para quem quer que a queira. Esta atitude do gato faz-me lembrar a “cinco mil quilómetros de distância no tempo”, um comportamento que visava contemplar um pouco a barriga por via das más refeições a que estávamos sujeitos: Bem gostaríamos de poder caçar os pombos verdes e as rolas em segurança, mas o perigo da guerra e as armas distribuídas não eram o modelo para as poder caçar. Os lagartos e as aves de grande porte estavam fora de questão. Gostaríamos de ter as três refeições de “ração” que nos pudesse satisfazer em pleno as nossas necessidades e, talvez partilha-la por outros que dela muito precisavam. Mas enfim Quando regressei dessa viagem confessei à mãe dizendo “ tinhas razão, com o excesso de roupa que me forçaste levar” valeu-me muitas vezes para matar a fome em trocas feitas, com os nativos, por animais de capoeira. Pois, logo que esgotada, a degradação da comida que nos era distribuída, originou por vezes ser um dos protagonistas que espalhava, propositadamente, junto da vedação de arame farpado, que separava o quartel da tabanca, algumas migalhas de pão, para que um ou outro galináceo (nheco) mais distraído a ultrapassasse, para que o “estômago conquistasse” um petisco com vistas a aconchegar a barriga. Nota: Sempre que conseguia detectar o dono dos nhecos, saldava as contas no final de cada mês. Raul Pica Sinos Dezembro 2019

domingo, 1 de dezembro de 2019

RECOMEÇAR É PRECISO Procurando arrumar no pensamento acontecimentos passados e os melhoramentos que foram realizados na aldeia do Pombalinho, depois da transferência da junta de freguesia para a comarca da Golegã, investiguei em vários documentos históricos o seu enquadramento municipal na região do Ribatejo. Sem ter conta a descrição das efemérides, em 1837, a aldeia do Pombalinho pertencia à Comarca de Santarém. Em 1884, passa a integrar a Comarca da Golegã e em 1902 é integrada novamente na Comarca de Santarém. Em Janeiro de 2013, a Freguesia do Pombalinho, por via da reorganização administrativa, passa pela segunda vez a pertencer à Comarca da Golegã. AS LINHAS DE FRONTEIRA E OS LIMITES Em resultado das ocorrências, veio-me há memória um filme com a data de 1958, que nos transmite humoristicamente o quanto essas irresponsabilidades se podem traduzir em elevados riscos sociais. A cena passa-se numa vila imaginária, fronteiriça, localizada numa estrada raiana que dividia Itália e a França, sendo que a linha de fronteira passava pelo meio de uma estalagem. São protagonistas os artistas cinematográficos, o Fenandel, no papel de polícia da fronteira francesa, e o Tótó no papel um contrabandista italiano. Quando o polícia consegue prender o contrabandista, descobre-se acidentalmente que o guarda nasceu na Itália, e não na França, porque nasce na cozinha da hospedaria, no lado italiano. Em razão da confusão da nacionalidade, o Fernandel além de perder sua autoridade como policia em França, é ainda acusado de desertor de guerra na Itália. Ora, uma das principais razões para passagem acima supracitada, prendia-se com linha de fronteira e com os limites territoriais que separavam a Comarca de Santarém da Comarca da Golegã, mais propriamente entre a rua 5 de outubro da aldeia do Pombalinho, e as ruas confinantes à rua do Casal Centeio da aldeia da Azinhaga. Tal situação gerava assimetrias e problemas graves nos interiores das moradias do lado sul da citada rua 5 de outubro. Porquanto, separava as salas destinadas às refeições e às cozinhas das restantes partes da casa, tais como as destinadas às casas de banho, aos logradouros e às hortas. Ou seja: As primeiras salas pertenciam à freguesia do Pombalinho, as restantes espaços à freguesia da Azinhaga. Não querendo descrever muitas das razões, tenho a ideia que quando o ordenamento e os limites dos territórios são feitos de régua e esquadro, sem ter em conta as realidades alicerçadas no terreno, as anomalias sucedem-se. Resultando daí prejuízos imediatos para as populações, quiçá agravadas, por via das desresponsabilizações de quem as homologou e, não só. CAMINHAR FAZ O CAMINHO Esta aberrante situação, acrescida do abandono que o Pombalinho estava votado pela Camara Municipal de Santarém, foram as razões mais sentidas do povo pombalinhense para o levantamento das reivindicações com vista à saída da comarca a que estavam vinculados. Com efeito, na luta por melhores condições e qualidade de vida, os pombalinhenses mobilizados e organizados numa comissão chefiada pelo então Presidente da Junta de Freguesia, Dr. Luís Santana Júlio, souberam percorrer todos os meios possíveis para alcançar a vitória. Nomeadamente: A) Na resolução das assimetrias de habitabilidade B) Para usufruir de melhor desempenho e benefício autárquico; C) Para permitir melhor prestação para a resolução dos problemas existentes com os serviços de água, saneamento e limpeza; D) Por razões de proximidade tendo em conta melhor acesso aos serviços estatais e sociais; E) Para usufruir do transporte grátis nas deslocações aos mais diversos serviços em todas as freguesias da Golegã; entre outros; Ainda assim, não me pareceu extrair das conversas com familiares e vizinhos que o limite territorial, entre as freguesias do Pombalinho e da Azinhaga por via do enclave Casal Centeio, ficasse resolvido. Aqui ocorre-me citar José Saramago: …. Cada segundo que passa é como uma porta que se abre para deixar entrar o que ainda não sucedeu… Raul Pica Sinos Dezembro 2019

terça-feira, 26 de novembro de 2019

HISTÓRIAS DA “MINHA” ALDEIA A TROCA DA VIDA DA GRANDE CIDADE PELA ALDEIA, FOI É UM SONHO ANTIGO QUE SE TORNOU REALIDADE Foi num outono, a época do ano escolhida para trocar a azáfama da grande cidade pela calma e sossego da aldeia do Pombalinho, situada em pleno coração do Ribatejo. A recuperação física, a tranquilidade da mente, a luta por melhor qualidade de vida, conferiram em muito as razões para a mudança. Mas não só. Não me custa reconhecer que o pensamento é antigo. Ao longo dos anos, quando me ausentava da capital em momentos mais frenéticos, saltava ao meu pensamento a vida na aldeia. As suas gentes, os seus usos e costumes, os verdejantes campos, o silêncio diurno e nocturno, o acordar com o chilrear da passarada e com cantar dos galos, o calor da lareira em dias de inverno, tudo me fazia sentir saudade em crescendo e com enorme vontade de nela viver. E assim de facto acabou por acontecer. TUDO TEM UM INICIO Corria o ano de 1962. Era verão. No Calhariz de Benfica, em Lisboa, na casa daquele que viria a ser meu sogro, sentado na sala reservada às refeições, era chegada a hora do almoço para o qual eu tinha sido convidado. À mesa, a minha conversada Maria Emília, D. Adelaide sua mãe, o chefe da família o Sr. José Luís. Quando a comida já fumegava na mesa, o chefe da família, olhando para mim, diz-me em tom quase paternal: …Já namoras com a minha filha há cerca de dois anos. Eu e a minha mulher temos vindo a pensar que chegou o momento de te dar a conhecer e apresentar à restante família no Pombalinho. É a terra onde nascemos, crescemos e constituímos família. Se bem que a Maria Emília tenha nascido numa quinta vizinha, em Mato do Miranda, Acrescentando sem rebuço: …Mas ficas desde já avisado, para evitar os falatórios, não quero que andes de braços-dados, ou com braço por cima dos ombros da rapariga, quanto muito de mãos dadas. A chamada de atenção tinha a ver com a postura perante as gentes da aldeia. Humildes é certo, educadas e trabalhadoras, mas à época, não era difícil de se verem críticas aos usos e costumes dos adolescentes das grandes cidades. A VIAGEM O momento destinado à apresentação da família (a data não posso precisar) foi num fim-de-semana, no verão desse ano. Na manhã de sábado, a partida do comboio da estação de Braço de Prata, em Lisboa, foi bem cedo. Acomodado, meu olhar perdia-se na paisagem que o caminho mostrava. O encanto do rio Tejo acima, terras ali-e-aqui cultivadas, os pregões das vendedoras em apoio aos passageiros em algumas das estações, tudo me extasiava. As duas horas do percurso foram feitas num ápice. Apeados na estação das Virtudes/Mato Miranda, suportando as malas e demais bagagem, fizemo-nos estrada fora, ladeada a maior parte por plantações de milho, trigo e extensos olivais. O Pombalinho estava a três quilómetros. OS “VIVAS” À MINHA ESPERA Na recepção, o viúvo, o Sr. Jerónimo, a Sr.ª Emília Serra e o Sr. Manuel Calado seu marido, respectivamente o pai; a irmã mais velha e o cunhado do meu futuro sogro, sorridentes estendem-me as suas mãos calejadas para me cumprimentarem. O convidado é alvo de regozijo de todos. Mas o momento mais alto estava para chegar. Era habitual os “cafés” e as tabernas serem frequentadas pelos trabalhadores ao final da jorna. Sendo certo que aos fins-de-semana, a azáfama era maior, o vinho jorrava com mais abundância, as conversas sucediam-se, o fado à capela estava sempre presente. Campinos do Ribatejo Gente feliz gente sã Nem sabem como os invejo Ao vê-los pela manhã Quem vem assim confiado Junto do gado é que está crente Que esses bravos animais São mais leais que muita gente Num desses estabelecimentos, perto do largo da igreja, já no final da tarde, na presença de outros familiares da Maria Emília, sobretudo primos, o seu tio Manuel Calado, entusiasmado, não deixava que o meu copo ficasse vazio de vinho branco, a tal ponto que só terminei de beber e de dar cumprimento ao “ritual” tarde demais! Valeu-me o Emídio Narciso, marido de uma prima da Maria Emília, a Natália Narciso que, se deu trabalho de me segurar e amparar até casa no “porta bagagens” da sua bicicleta, Aqui, o Manuel Calado, sorrindo, depois de mais um ou dois “fados”, insistiu na ajuda na lavagem dos meus pés, no grande tanque existente no quintal. A cama estava por perto. No dia seguinte, domingo, dia do retorno para Lisboa, sentia algum mal-estar por via das náuseas, da dor de cabeça, e das tonturas que teimavam em não parar. Tal não foi a ressaca. Contudo deu para verificar quanto satisfeitos estavam todos por me terem conhecido! Ao contrário, o José Luís, pai da Maria Emília, ficou fulo quando constatou o novo tom da recente pintura no corredor da casa por via do “néctar vomitado”, afirmando: …Da próxima vez que vieres ao Pombalinho, não te esqueças de trazer do teu emprego (Robbialac) a tinta necessária para pintares o corredor. O casamento com a Maria Emília Santos Luís Pica Sinos realizou-se nesta aldeia em 4 de Maio de 1969. Pombalinho, 21 de Novembro de 2019 Raul Pica Sinos

sábado, 2 de novembro de 2019

AS MISTERIOSAS GRUTAS DE LAPAS As grutas de Lapas tornaram-se um sítio misterioso com o qual se fizeram muitas lendas que deliciaram o povo. Tem cartazes expostos, com uma intervenção do compositor e músico Zeca Afonso, a 28 de dezembro de 1968, com a presença de cerca de sete dezenas de espectadores em nítido desafio ao regime ditatorial. Neste princípio de outono surgiu a oportunidade de visitar as misteriosas grutas de Lapas. As grutas ficam situadas na pequena aldeia de Lapas. No concelho de Torres Novas. A pequena estrada que lhe dá acesso estende-se por uma elevação aonde as mesmas estão situadas. O ar é mais fresco, se bem que o sol ainda esteja alto. Mas a temperatura estava agradável. Cheios de curiosidade chegamos ao local por volta das 10,30 horas. Ao nosso encontro, sorridente, dirige-se a responsável e simpática guia, que nos dá as boas vindas. Nesta manhã de outubro, somos os únicos visitantes e, em pequeno passo no percorrer das galerias, com um ou outro morcego a sobrevoar, informa-nos: As grutas das Lapas são uma rede de galerias artificiais. O aglomerado está implantado numa elevação correspondente a um terraço fluvial do rio Almonda. A sua origem, de idade quaternária, permanece envolta em mistério. Uma das explicações é que tenham sido uma pedreira subterrânea de tufo, acreditando-se que foram os romanos os primeiros a explorarem-nas para extração de tufo calcário. Acrescentando: São várias as teorias formuladas, desde uma utilização primitiva como abrigo, associada a cavidades naturais preexistentes, ao refúgio de cristãos primitivos ou à já referida, exploração de blocos de tufo na época romana, havendo ainda várias referências aos mouros no imaginário local. Os historiógrafos não chegam a consenso acerca de quem e para que fim foram exploradas estas grutas; uns atribuem aos cristãos que as escavaram para se esconder dos romanos, enquanto outros consideram que foram construídas pelos mouros. O que se sabe realmente é que foi das grutas que se extraiu o tufo com que se edificaram as casas da povoação e o próprio castelo de Torres Novas. As grutas tornaram-se um sítio misterioso com o qual se fizeram muitas lendas que deliciaram o povo mas que hoje, estão a cair no esquecimento da própria população. Ao certo, sabe-se que a própria aldeia, com a designação de Lapas, já existia em 1212, data do compromisso da sua confraria; que, dos trabalhos arqueológicos efetuados, os vestígios mais antigos datam do século XV e, há fontes que referem as galerias já abandonadas em meados do século XVIII. A simpática guia, após a sua exposição histórica, convida-nos a ver os cartazes expostos nas paredes de tufo, com destaque para a intervenção musical do Zeca Afonso, a 28 de dezembro de 1968, contrariando a política do regime ditatorial, na presença de cerca de sete dezenas de espectadores. Assim como fotografias de alguns episódios de recentes telenovelas e filmes ali produzidos. Decerto que voltaremos ao concelho! Desta feita para visitar as ruinas romanas da Vila Cardílio, Notas: Texto da responsabilidade de Raul Pica Sinos, apoiado em textos de turismo editados pelo município de Torres Novas.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O BARBEIRO QUE TEM DE NOME MAS NÃO É DE SEVILHA Há muitos anos que a aldeia só tem um barbeiro. O existente, num raio de 15 quilómetros, dá pelo nome de Sevilha. A alcunha creio, foi por força da conhecida ópera, Barbeiro de Sevilha, e a similitude com a história de Fígaro. Este “baeta”, da nossa vizinha Espanha, fazia de “tudo”. Reza a história, (entre outros predicados), que atento as confissões de alguns clientes, passava-as a outros sem deixar de acrescentar mais um ponto, enfim… um verdadeiro prodígio não só na arte de barbear como também da imaginação. O nosso amigo barbeiro, talvez não (tenha) tivesse tantos “predicados”, mas pela analogia da profissão, da alcunha não se safou. Hoje, cá na terra, ninguém o trata pelo nome de batismo, Sevilha ficou. Vou ao seu encontro no modesto e pequeno salão de barbeiro, “anos 50”, situado na entrada da sua residência. Reparo que as paredes são amareladas pelo tempo. Observo que suportando os apetrechos da profissão, os móveis, de pintura castanha aqui-ali já polida, são pequenas gavetas suportados por estreitas poleias. Cadeira articulada necessariamente. Um ou outro calendário com a imagem de senhoras pró sensual fazem parte do layout. Vejo a sua mão estendida para cumprimento deste seu novo cliente. A cadeira de trabalho espera-me. O avental de serviço desse dia é-me colocado. Na minha frente, no espelho situado na parede, contemplo refletida a sua imagem com a tesoura e o pente na mão. Pergunta: Como quer o corte? Cheio respondi! Está bem, não precisa de dizer mais nada! Este meu “novo” barbeiro tem 76 anos de idade, de constituição magra e pequeno na altura. Enquanto me “tosquiava”, com ar semblante e curioso, perguntou: De férias? Mora onde? É familiar de quem? Respondi há sua curiosidade. Assegura, sorrindo, que eu tinha feito bem ao deslocar-me para a aldeia! Acrescenta, algo gabarola, que apesar da idade já avançada e das vicissitudes da vida, nunca esteve doente. Ficou admirado quando lhe disse que o seu “percurso” não me era totalmente desconhecido. Disseram-me que trabalhou nas barbearias mais chiques de Santarém. Que tinha sido treinador do Clube Vera Cruz Futebol. Uma outra paixão era colecionar bicicletas pasteleiras e automóveis em desuso. Ui meu amigo, não só Não só meu amigo retorquiu. Não só! A vida foi bem dura. Não fui bem-sucedido como imigrante na Alemanha. Fui longos anos maltês (*) numa quinta na periferia da aldeia. Ferrava pelas quatro horas da manhã para cuidar do rebanho de cabras que tinha agrupado com o gado do patrão. Quando o sol raiava era agarrar na motoreta e seguir para Santarém para responder à profissão de barbeiro que desde os 13 anos abracei. A vida foi bem dura para mim e para a Deolinda. A Deolinda era o nome da minha mulher. Choro todos os dias esta que foi a mulher da minha vida. Companheira sofrida. Mãe dos meus dois filhos. Essa do futebol é para esquecer, o Vera Cruz Futebol Clube foi um clube muito animado pela mocidade do Pombalinho. Foi fundado em 1933, ainda eu não era nascido. Passado cerca de uma década acabou. Renasceu anos mais tarde. Por volta dos anos 70 foi seu treinador. Era mais uma tarefa a juntar ao meu currículo profissional. Apesar de tudo, ainda tinha tempo para treinar a rapaziada. Mas tudo acaba. Quando larguei esta tarefa ao cabo de 12 anos, perto se desmoronou. Hoje só resta o campo de futebol e a maior parte rapaziada que formava o clube e a equipa. Mas você quer uma bicicleta para recuperar? Eu não vendo! Ofereço-a. Tenha um bom dia. Nota (*)Trabalhador agrícola que se desloca para trabalhar temporariamente fora da sua terra.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Os Avós

Os avós vêm de muito, Muito longe…

E vêm cansados. De tão longa caminhada. Cheios de pó, metem dó!
E vêm vergados. Por tantos anos vividos a trabalhar.
Também vêm sós. Tudo perderam pelo caminho: A Elegância, a Formosura, toda a frescura, os mais belos sonhos, anos risonhos, os seus amigos, os seus parentes. Mesmo seus maiores afectos
Apenas lhes resta o coração.
Esse, guardam-no religiosamente - Para amar, e para dar de presente...
...Aos seus netos

(do blog Educação de Infancia, mas de autor desconhecido.)

quinta-feira, 31 de julho de 2014

JÁ NO SÉCULO XV EXISTIA O NOME DE PICA SINOS


Com uma rara cultura, Anselmo Braamcamp Freire (1849-1921) foi escritor, historiador e um dos fundadores do Arquivo Histórico Português, em 1903.
Como arqueólogo e genealogista deixou uma vasta obra, tendo sido em Portugal o precursor de genealogia científica.

Os Brasões da Sala de Sintra são a obra maior de investigação de Anselmo Braamcamp Freire, autor que ocupa um lugar de excepção, de primeira fila, na legião dos que, depois de Herculano, adiantaram as investigações históricas em Portugal.
Esta obra marca também o início, em Portugal, do estudo da Genealogia como uma ciência auxiliar da História, pois até essa data ela mantivera-se num estado de panegírica, e de pouca ou nenhuma aplicação dos métodos científicos de investigação.
(Wikipédia)
142 Brasões
……
   Por fim entrou el Rei a cavalo coberto de riquíssima armadura guarnecida de pedras preciosas e pérolas, com a coroa real sobre o elmo e dela saindo os liames de nau doirados que ostentava por cimeira em atenção à rainha, fazendo um desgraçado trocadilho com liames e Lianor, como então se dizia:
   Estes liam de maneira que jamais pode quebrar quem co'elles navegar.
   Em volta de D. João II caminhavam quarenta moços de estribeira vestidos de brocados de pêlo.
   Atrás de el Rei vinham, tambe'm a cavalo, os oito mantenedores, a um e um, todos ricamente vestidos de brocados e sedas, cobertos de bordados e entretalhos e ornados de magníficas jóias. Cada um deles era rodeado de muitos moços de esporas vestidos de sedas.

   O primeiro mantenedor atrás de el Rei era D. João de Valenzuela, antigo prior mor da Ordem de S. João de Castela, donde andava desterrado por haver seguido o partido da Excelente Senhora. Era homem não muito novo decerto, pois que já naquela qualidade figurara numa concórdia celebrada em 1467 entre os priorados de Castela e Portugal (i). Trazia como cimeira o vulto de Alexandre sobre uns grifos e esta divisa:

   O sexto era D. João de Meneses, o Pica-Sinos, alcunha que lhe foi posta por em rapaz querer andar sempre a repicar sinos. Era irmão do conde de Cantanhede e aio e mordomo-mor do príncipe D. Afonso, a quem acompanhou quando, em 12 de Julho de 1491, deu, nos campos de Santarém, a mortal queda do cavalo abaixo. D. João, um dos melhores poetas do Cancioneiro, trazia por cimeira um ichó (armadilha em forma de alçapão para apanhar caça meúda) e dentre dele metido até à cintura um homem. A divisa era esta:

Es tan dulce mi prision
que deve, para matarme,

no prenderme mas soltarme.