domingo, 31 de março de 2013
sábado, 9 de março de 2013
HISTÓRIAS DO MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS (XXXV)
A
NOITE FOI BOA, O DIA NEM TANTO!
Quis o
acaso que, naquele sábado, me encontrasse na rua de maior movimento pedonal. A
Rua das Tílias. Esta rua ficava na entrada do meu velho Bairro das Furnas. Dava
ligação a muitas outras - das Oliveiras, das Faias, das Nogueiras; dos Salgueiros
-. Tinha uma ligeira inclinação a partir do meio, onde, no seu primeiro
cruzamento, floresciam um número considerado de bonitas piteiras.
O alinhamento
das casas era do lado direito de quem a descia. À esquerda, acompanhava-a no
primeiro lanço uma sebe, sustentando um gradeamento que, separava todo um aparato
social; o Posto médico, o Jardim infantil e a Creche.
Na frente
da casa com o nº 2, a limpar, com a ajuda de um trapo, as mãos carregadas de
óleo, sorridente, dizia o meio oficial de mecânica auto;
…Está
pronto Raul, está pronto…Já faz fumo…
Não era
para menos, o carro, ora reparado, encontrava-se na frente da sua porta há
cerca de uma semana e, o cliente certamente já o tinha reclamado.
Retribuindo
o sorriso, dirigi-me ao Carlos Santana e, em jeito de interrogação questiono-o…e
agora?
Agora?
Agora, aparece a seguir ao jantar, vamos dar uma volta, retorquiu.
Mãe, vou
dar uma volta com o Santana, não me demoro, vamos experimentar um carro que ele
consertou.
Em traje
de fim-de-semana, lá me apresento à chamada. Junto ao “Anglia Prefecta” de cor
preta, já lá estava o Zé Manuel, o filho da Ti Julvira que, logo me afaga a
cabeça, contente, por me ter por companhia.
Era o
mais novo do trio, tinha 12 anos de idade. Os meus companheiros certamente mais
3/4 anos de idade.
Aventurados,
já noite, o nosso condutor ainda “desencartado”, escolheu como trajecto, para
“pista de experiência automobilista”, a marginal de Lisboa/Cascais.
O velho carro
acompanhava um comboio. Provocado o maquinista com acenos, este respondeu ao
desafio. As marchas foram aceleradas, nervosamente trocaram-se apitos e buzinadelas.
Nem o
chapéu-de-chuva aberto dentro do carro, por via da chuva miudinha a entrar
pelos buracões no tejadilho, obstara, em largas centenas de metros, tão
divertida corrida.
Ao chegar
à vila de Carcavelos alguém disse:
… E se
fossemos ver do baile à Capricho Carcavelense…
Dito e
feito, arrumado o carro, lá fomos dar o nosso pezinho de dança por umas quantas
horas, mas um pouco antes de acabar a animação, não me recordo qual um dos meus
companheiros (ou os dois) fez a seguinte comunicação: “Eh pá Raul! Agora, vamos
entregar o carro, é longe e, ficamos por lá. É melhor regressares ao Bairro, tens
comboio daqui a pouco”.
Já só os
vi pelas costas. Fiquei na dúvida de tão misteriosa conversa. Quando saímos do
Bairro, nada me foi dito em conformidade. Pensei, talvez…raparigas? No entanto não
me moveu, o que, quer que fosse, para contrariar tal decisão.
Na
estação, vejo, por ser fim-de-semana, que os horários dos comboios eram mais
espaçados.
Esperei
cerca de uma hora para a bilheteira abrir. Observo o dinheiro no bolso, só dava
para permitir ter bilhete de passagem, até à estação de Belém. O horário do comboio
a parar nesta estação, só por volta das 07 horas. Nada a fazer, outras
alternativas não havia.
Quando
cheguei à estação de Belém, tirei o “azimute” do caminho para casa; Subir a
calçada da Ajuda, avançar na direcção aos 4 caminhos na serra do Monsanto, continuar
o trajecto até prisão, situada bem no alto. Chegado aqui, para o Bairro, foi só
descer a encosta. Já na entrada, o sol dava-me pelo joelho.
Foi a
minha primeira noite (das muitas) fora de casa!
Quando
abro a porta da entrada do “ninho”, vejo sentada, com os braços sobre a mesa, raladíssima
e encolerizada minha mãe, que, de pronto me perguntou:
… Por
onde tens andado? Até à polícia já fui…
A custo
lá expliquei.
Não
convencida, outro “baile” iniciou.
No
entanto direi, mesmo depois de todas a vicissitudes, foi muito bela a minha
primeira noite fora de casa.
Março
2013
Nota:
A 1 ª
foto foi tirada, com a devida vénia, da página do Bairro das Furnas/Faceboock
que, agradeço e, ajustada ao tamanho do texto.
A 2ª e 3ª
foto perdidas no Google, sofreram alteração da autoria do autor deste texto
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