A PAIXÃO PELO ARCO E GANCHETA
Andar de
arco de gancheta naquelas ruas, não era de todo fácil. O asfalto existente era
pobre, irregular, as covas eram mais que muitas.
A minha
rua dos Plátanos e, o arruamento de ligação às outras ruas paralelas e, de
acesso à saída do bairro, tinham uma ligeira inclinação. Mais acentuada ao confinar
com largo onde o mercado se encontrava.
Dizer que
este handicap/inclinado originava a velocidade do “transporte” a “dois” tempos.
Primeiro em passo de corrida, mas chegado à rampa, aqui o passo era de caracol.
Contudo, mais difícil era na descida, tendo em conta a velocidade e os pinotes do
arco que, a gancheta e o condutor, mal conseguiam segurar.
O meu
arco era aproveitado de um velho aro de bicicleta, originando nas correrias, por
mais largo e pesado, dificuldades no manejar. Os arcos dos outros miúdos eram mais
leves e finos, eram feitos de ferro, alguns até de aço, mais fáceis de os fazer
rodar e manejar. Não tinha serralheiros metalúrgicos na família para me brindarem
com um destes bólides, desvantagem jamais desmotivadora das entusiásticas
corridinhas, ruas abaixo, na direcção aos “tanques”.
“Tanques”
era o nome dado ao lavadouro comunitário, situado a sul dos arruamentos,
paredes meias com a linha do caminho-de-ferro.
A
rapaziada, aqui chegada, após aturadas correrias, matava a sede com a água sempre
fresca que, brotava das torneiras livres de serventia. Seguia-se o molhar das mãos
e da cara para que suor e, o avermelhado depressa deixasse de incomodar.

Hoje,
dificilmente se vê um miúdo a andar de arco e gancheta. Talvez num qualquer velho
bairro ainda existente, numa das colinas desta Lisboa.
Dezembro
de 2013
Raul Pica
Sinos
Notas:
1ª Foto do
Blog Recordar, Aprender e Descobrir
2ª Foto da
C.M.L.