quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

HISTÓRIAS DO MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS (XXXIV)



Antiga Rua das Tilias
FUI AO ENCONTRO DO MOINHO QUE ME VIU CRESCER

 Naquela manhã, o sol não se avistava. Também não chovia. O tempo estava nublado, cinzento, mas nada que, estorvasse o meu encontro com o moinho que me viu crescer.

No Calhau, aos seus “pés”, na Serra do Monsanto, um belo parque recheado com zonas de recreio, circuitos de manutenção, zonas para merendar e campos de jogos.
Os trilhos apresentavam-se limpos, com todo o terreno verdejante.
Não são muitos os visitantes. Uns correm, outros passeiam com os fiéis amigos presos por trelas.

Vejo, em zonas demarcadas, bancos de descanso, mesas para merendar. Contudo não me fazem distrair no meu caminho ao encontro do “meu” moinho. Sabia que, no cimo da vereda carregada de vegetação, o descobriria como outrora, sem trilhos, vezes sem conta, o encontrara.

Na frente da sua pequena entrada em ruínas, parado, espero pelo seu “abraço”. Aguardo pelo “convite” para entrar. Admiro os velhos e, mais degradados os buracos que, serviram certamente de suporte às peças do engenho. Afago, respeitosamente aquelas pedras polidas pelo tempo.

Como outrora, não escondo o desejo de escalar as suas paredes. Esforçado, sozinho, a custo o fiz. No alto, quanto o meu olhar alcança, vejo as diferenças.
Do novo Bairro, não vejo as ruas, mas sim alguns andares de poucos prédios. Ao cimo também não vejo o adro e capelinha, como antigamente admirava, sentado naquelas pedras sempre frias.
Pior foi descer, esqueci-me das dificuldades pela idade. Aquele amontoado de pedras, restos do moinho que me viu crescer, mais pareciam não o querer deixar. No entanto direi:
Voltarei! Prometo!

…................

Das várias entradas existentes no novo Bairro das Furnas, quase sempre escolho a entrada pela rua Padre Carlos dos Santos (antiga Rua das Tílias?). Não sei explicar o porquê, talvez pelo “costume”, quando menino e moço, morador do velho Bairro das casas desmontáveis.

Um outro gesto, também não o saber explicar, quando desço a rua Costa da Mota, o meu olhar, forçosamente, vai na direcção da “minha” serra de Monsanto, procurando avistar no alto, o seu majestoso e velhinho moinho de vento, mas sem êxito.
Desolado, continuo na direcção dos meus propósitos, ficando na minha mente a lembrança, de como era bonito avistar, o “Três Cruzes”, de todas as ruas do velho bairro das Furnas.

Conta a história que, a Serra apresentava condições de exposição ao vento, levando ao desenvolvimento de uma importante actividade moageira. É assim que, em meados do século XIX, eram cerca de 75 os moinhos de vento em laboração e, anos depois se terá verificado rápido declínio. O último a encerrar foi, o Moinho do Penedo, no ano de 1925.

Com a ideia, conseguida, da criação do Parque Florestal de Monsanto, no ano de 1938, é dado o início às expropriações e reflorestação da serra.
Hoje, na Serra de Monsanto, só há vestígios de “meia dúzia” dos velhos moinhos: Moinho do Penedo, Moinhos do Mocho, Moinhos de Santana, Moinhos do Casalinho da Ajuda e Moinho das Três Cruzes ou do Calhau. Todos, dispondo ao seu redor, zonas de recreio, circuitos de manutenção, zonas para merendar e campos de jogos.
 O “meu”, “O Três Cruzes”, está classificado, por excelência, como um dos miradouros mais bonitos sobre a zona leste da cidade de Lisboa. Infelizmente é o único que não foi recuperado, continuando em plena degradação.

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