OS JOVENS DO RITMO NA
CONQUISTA DO ROCK AND ROL
O Beirão, na
adolescência, era um “puto” giríssimo. As borbulhas na cara, por via da barba a
surgir, não lhe tirava a graciosidade.
O Zeca, era,
um galã. Vestia primorosamente, quase sempre de fato, oferecendo elevada
elegância.
Os Jovens do
Ritmo, durante 8/9 anos, abrilhantaram musicalmente decerto a mais famosa sala
de baile de Lisboa. Espelho D’Agua, em Belém,
Esta nova história do
velho Bairro das Furnas, vem a propósito por observação das minhas duas netas,
quando num dia, difícil de precisar, as transportei no automóvel e, sintonizo no
rádio uma das estações que, reproduzem música e canções anos 60/70.
Do banco de trás oiço
dizer …Lá vem música dos cotas.!
A discussão foi acesa para
catalogar da preferência do melhor:
Digo eu …Será a
gritaria, a falta de harmonia no ritmo musical, o aumento dos decibéis de
estoirar ouvidos, destes novos conjuntos que esgotam estádios, as danças com
esquemas, é disto que vocês gostam?
Do banco detrás oiço dizer…Não te
enerves, transfere lá essa “cena” para um posto de rádio de jeito, porque, a
hora de dormir ainda não chegou! (diz-me uma delas elas com a concordância da
outra).
Pois foi. Foi esta
troca de “ideias” que, se fez luz na memória, os momentos, sobretudo aos sábados,
quando colocava umas moedinhas na máquina jukebox, existente no café
do Gonçalves, na meia-laranja, ouvindo, repetidamente, as canções então na
“berra”; do Elvis Peslay, do Paul Anka, do Littie Richard, entre outros. Muitas
das vezes já aperaltado para participar numa sessão dançante, ao som das músicas do rock
and roll ou românticas, abrilhantada pela banda Os Jovens do Ritmo!
Creio que
haverá, felizmente, ainda muita gente recordada de ver o Beirão a tocar
guitarra eléctrica e, o saudoso Zeca acompanhando-o cantando.
Este duo foi
um sucesso nas salas de baile das colectividades de Lisboa, ao divulgar músicas
e canções de origem anglo/americanas e, italianas.
Mais tarde, por
exigência do êxito e dos muitos fãs que, a miude os acompanhava, verificou-se da
necessidade de evoluir, passando o duo a quarteto.
Para aqueles que desconhecem tal feito
e, decerto modo, para ficar registadas algumas modestas memórias, direi:
José Domingos A. Beirão, o Beirão como lhe chamavam. Na adolescência, era um “puto” muito giro. As borbulhas na cara, por via da barba a surgir, não lhe tirava a graciosidade. Irreverente, como os demais. Uma “fera” a jogar matraquilhos na tasca do carvoeiro situada ao fundo da Rua de S. Domingos, esquina com a Estrada de Benfica.
Adorava o rock
and rol, a rebeldia musical, os blusões de cabedal pretos. O fascínio, o
encanto pela música, o som das guitarras eléctricas, infernizava-o diariamente.
Seu pai,
acompanha-o no sonho e, oferece-lhe uma guitarra electrica de marca Eko, de
fabrico italiano, com 6 cordas, com amplificador e barra para vibração, a sua
cor era de um vermelho garrido. Custou 18 contos, quiçá vinte vezes superior ao
ordenado mensal de um operário.
Vaidoso, era
vê-lo depois, não poucas vezes, no quintal do Cataré, a produzir os primeiros
acordes.
O José
Alberto, o Zeca para família e amigos, era um rapazola alto, de cabelo preto e
sempre bem penteado. Vestia primorosamente, quase sempre de fato. Os sapatos sempre
engraxados. Indumentária, no seu conjunto, oferecendo elevada elegância. Era o
que se pode chamar…um galã. Amigo do seu amigo. Gostava muito de brincar e de
cantar todo o género de canções entusiasmantes à época, incluindo mornas de
Cabo Verde. Cantava primorosamente bem, com timbre voz limpo e agradável.
Já se
referiu o êxito e o entusiasmo destes dois amigos. Queriam mais. Ultrapassados
alguns obstáculos, formam uma banda de quarteto, com a junção de um baterista e
de um viola de acompanhamento, rapazolas oriundos de um bairro lá para os lados
da Pontinha.
Os Jovens do
Ritmo, não eram uma banda de menos importância. Em Setembro de 1965, na 7ª
eliminatória do concurso Ié-Ié, no destruído Teatro Monumental, ao Saldanha, há
quem defenda que, não ficou em 1º lugar, porque o vencedor (Gatos Pretos) era apadrinhado
pelo dono do teatro o Sr. Vasco Morgado (pai).
A prova do
seu esmero trabalho não demora a chegar, são convidados a participar no filme (Estrada
da Vida), durante um mês, em Angola, com o artista Tony de Matos.
Durante 8/9
anos de brilhante carreira, mensalmente, são contratados para actuarem (ao sábado)
no Espelho D’Agua, em Belém, engalanando musicalmente decerto a mais famosa sala
de baile de Lisboa.
“Os Jovens do Ritmo” há muito que são uma recordação. Não fazia qualquer sentido continuar a abrilhantar as salas de baile de Lisboa, por respeito, à ausência daquele que foi decerto o seu grande animador.
O Beirão morava na Rua
Eng.º Gomes de Amorim. A rua principal do bairro como ele lhe chama.
Após cumprido o
serviço militar, foi ocupar, com a família, uma nova casa na Quinta das
Pedralvas, em Benfica.
Mecânico de profissão.
Em parceria com o Santana detém uma oficina auto na Rua do Montepio Geral, em
S. Domingos de Benfica.
Desfeita a sociedade
vai viver para a Nazaré. O Sr. Domingos como é conhecido por lá permanece
durante 18 anos.
Hoje, com 70 anos de idade, reside no
Concelho de Alcobaça, mais propriamente na localidade de Alpedriz.
O saudoso Zeca morava no Bairro Padre Cruz, era namorado da bonita Bina. Depois de casado, com esta irmã do saudoso Zé Augusto, passa a residir na Rua de São Domingos, paredes meias com o Bairro.
Foi
funcionário superior da Olivetti e mais tarde concecionário dos mesmos produtos
de comercialização.
Foi o responsável,
durante alguns anos, pelo Departamento do hóquei em patins do Sport Lisboa e
Benfica.
Faleceu aos
40 anos no dia do aniversário da sua mulher.
Agosto 2013