quinta-feira, 29 de agosto de 2013

HISTÓRIAS DO MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS (XXXIX)


 OS JOVENS DO RITMO NA CONQUISTA DO ROCK AND ROL


O Beirão, na adolescência, era um “puto” giríssimo. As borbulhas na cara, por via da barba a surgir, não lhe tirava a graciosidade.

O Zeca, era, um galã. Vestia primorosamente, quase sempre de fato, oferecendo elevada elegância.

Os Jovens do Ritmo, durante 8/9 anos, abrilhantaram musicalmente decerto a mais famosa sala de baile de Lisboa. Espelho D’Agua, em Belém,


Esta nova história do velho Bairro das Furnas, vem a propósito por observação das minhas duas netas, quando num dia, difícil de precisar, as transportei no automóvel e, sintonizo no rádio uma das estações que, reproduzem música e canções anos 60/70.

Do banco de trás oiço dizer …Lá vem música dos cotas.!
A discussão foi acesa para catalogar da preferência do melhor:
Digo eu …Será a gritaria, a falta de harmonia no ritmo musical, o aumento dos decibéis de estoirar ouvidos, destes novos conjuntos que esgotam estádios, as danças com esquemas, é disto que vocês gostam?  
Do banco detrás oiço dizer…Não te enerves, transfere lá essa “cena” para um posto de rádio de jeito, porque, a hora de dormir ainda não chegou! (diz-me uma delas elas com a concordância da outra).
Pois foi. Foi esta troca de “ideias” que, se fez luz na memória, os momentos, sobretudo aos sábados, quando colocava umas moedinhas na máquina jukebox, existente no café do Gonçalves, na meia-laranja, ouvindo, repetidamente, as canções então na “berra”; do Elvis Peslay, do Paul Anka, do Littie Richard, entre outros. Muitas das vezes já aperaltado para participar numa sessão dançante, ao som das músicas do rock and roll ou românticas, abrilhantada pela banda Os Jovens do Ritmo!

Creio que haverá, felizmente, ainda muita gente recordada de ver o Beirão a tocar guitarra eléctrica e, o saudoso Zeca acompanhando-o cantando.
Este duo foi um sucesso nas salas de baile das colectividades de Lisboa, ao divulgar músicas e canções de origem anglo/americanas e, italianas.
Mais tarde, por exigência do êxito e dos muitos fãs que, a miude os acompanhava, verificou-se da necessidade de evoluir, passando o duo a quarteto.
Para aqueles que desconhecem tal feito e, decerto modo, para ficar registadas algumas modestas memórias, direi:

José Domingos A. Beirão, o Beirão como lhe chamavam. Na adolescência, era um “puto” muito giro. As borbulhas na cara, por via da barba a surgir, não lhe tirava a graciosidade. Irreverente, como os demais. Uma “fera” a jogar matraquilhos na tasca do carvoeiro situada ao fundo da Rua de S. Domingos, esquina com a Estrada de Benfica.

Adorava o rock and rol, a rebeldia musical, os blusões de cabedal pretos. O fascínio, o encanto pela música, o som das guitarras eléctricas, infernizava-o diariamente.
Seu pai, acompanha-o no sonho e, oferece-lhe uma guitarra electrica de marca Eko, de fabrico italiano, com 6 cordas, com amplificador e barra para vibração, a sua cor era de um vermelho garrido. Custou 18 contos, quiçá vinte vezes superior ao ordenado mensal de um operário.
Vaidoso, era vê-lo depois, não poucas vezes, no quintal do Cataré, a produzir os primeiros acordes.

O José Alberto, o Zeca para família e amigos, era um rapazola alto, de cabelo preto e sempre bem penteado. Vestia primorosamente, quase sempre de fato. Os sapatos sempre engraxados. Indumentária, no seu conjunto, oferecendo elevada elegância. Era o que se pode chamar…um galã. Amigo do seu amigo. Gostava muito de brincar e de cantar todo o género de canções entusiasmantes à época, incluindo mornas de Cabo Verde. Cantava primorosamente bem, com timbre voz limpo e agradável.

Já se referiu o êxito e o entusiasmo destes dois amigos. Queriam mais. Ultrapassados alguns obstáculos, formam uma banda de quarteto, com a junção de um baterista e de um viola de acompanhamento, rapazolas oriundos de um bairro lá para os lados da Pontinha.

Os Jovens do Ritmo, não eram uma banda de menos importância. Em Setembro de 1965, na 7ª eliminatória do concurso Ié-Ié, no destruído Teatro Monumental, ao Saldanha, há quem defenda que, não ficou em 1º lugar, porque o vencedor (Gatos Pretos) era apadrinhado pelo dono do teatro o Sr. Vasco Morgado (pai).
A prova do seu esmero trabalho não demora a chegar, são convidados a participar no filme (Estrada da Vida), durante um mês, em Angola, com o artista Tony de Matos.
Durante 8/9 anos de brilhante carreira, mensalmente, são contratados para actuarem (ao sábado) no Espelho D’Agua, em Belém, engalanando musicalmente decerto a mais famosa sala de baile de Lisboa.

“Os Jovens do Ritmo” há muito que são uma recordação. Não fazia qualquer sentido continuar a abrilhantar as salas de baile de Lisboa, por respeito, à ausência daquele que foi decerto o seu grande animador.

O Beirão morava na Rua Eng.º Gomes de Amorim. A rua principal do bairro como ele lhe chama.
Após cumprido o serviço militar, foi ocupar, com a família, uma nova casa na Quinta das Pedralvas, em Benfica.
Mecânico de profissão. Em parceria com o Santana detém uma oficina auto na Rua do Montepio Geral, em S. Domingos de Benfica.
Desfeita a sociedade vai viver para a Nazaré. O Sr. Domingos como é conhecido por lá permanece durante 18 anos.
Hoje, com 70 anos de idade, reside no Concelho de Alcobaça, mais propriamente na localidade de Alpedriz.

O saudoso Zeca morava no Bairro Padre Cruz, era namorado da bonita Bina. Depois de casado, com esta irmã do saudoso Zé Augusto, passa a residir na Rua de São Domingos, paredes meias com o Bairro.
Foi funcionário superior da Olivetti e mais tarde concecionário dos mesmos produtos de comercialização.
Foi o responsável, durante alguns anos, pelo Departamento do hóquei em patins do Sport Lisboa e Benfica.
Faleceu aos 40 anos no dia do aniversário da sua mulher.

Agosto 2013


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