A VIDA É UM RASCUNHO DE SAUDADES
Corria o mês de Janeiro de 1971. Dou comigo, ao volante do “carocha”, a subir a Av. da Liberdade em Lisboa. O tempo estava chuvoso, chuva tipo “molha-tolos”. Oiço o “cantar” do carro e acelero, entusiasmado ao verificar que toda a avenida tinha luz verde nos semáforos. Reparo que deixo para trás, alguns dos “borrados” condutores com receios das condições do tempo e do asfalto.
Num ápice surge a rotunda do Marquês de Pombal. Dou com todos os meus companheiros “de route” parados e perplexos, a assistir ao bailado do “Carocha” que ostentava ainda na traseira um “ovo” amarelo indicativo de velocidade máxima de 90 km que me era permitida e avisador para os demais…… “aqui vai um piriquito”. Qual bailado de cisne em tempo de acasalamento.
O “meu”, ou melhor o “bailado” do meu “Pablo”, foi de tal forma que ainda hoje estou para saber como fui parar ao jardim que circundava a estátua do Conde de Oeiras, Primeiro-ministro e Marquês de Pombal. Atolado no meio das flores, não fora a ajuda do jardineiro e de um polícia sinaleiro, creio que ainda lá estaria especado e com os pés lameados perante o riso de gozo dos energúmenos condutores que pelo local passavam.
Esta rotunda dava-me “galo”. Uma outra vez, não muito distante no tempo, vindo da direcção do Saldanha e querendo cortar à direita, em direcção às Amoreiras, ao sair da faixa do meio, um táxi levou-me o guarda-lamas direito, sendo, por mim, recuperado mais à frente, perante todo o trânsito parado, espectáculo desta vez “brindado” com multa e “recheado” de sorrisos dos passantes, gozo que me levou a retirar para sempre o malfadado “ovo” amarelo.
Também quem não gostava muito destas e outras brincadeiras resultantes em amachucadelas, era o Artur bate-chapas e o Arnaldo pintor, amigos de infância que possuíam uma oficina no Bairro da Graça. Bem dizia o Arnaldo (que comigo em miúdo roubava parte das hóstias ao padre do Bairro quando lhe fazíamos o recado à senhora que as confeccionava): Oh Pica dizia ele… de tantas vezes nos “visitares” é melhor mudares de emprego e vires para cá trabalhar.
Na verdade o “defeito não era meu”, à falta de visibilidade do guarda-lamas do lado direito, o carro andava quase sempre batido, ao ponto de sair da garagem com o “Carocha” como um “brinco” e junto ao Miradouro de Santa Luzia, para aí mais mil metros à frente, ainda na região do Bairro da Graça, bater na traseira de um outro carro, tal a distracção ao admirar uma flausina lisboeta. Já era azar!
No entanto, convencido continuava a não haver melhor “volante” em Lisboa e arredores. Vaidoso, lá continuava a buzinar ao som do rugir da vaca.
Como era boa a vida de Lisboa. Quem me dera ter outra vez vinte anos…
Não fui capaz de segurar as lágrimas, dois anos depois, quando por 10 contos (cinquenta euros) me desfiz do primeiro carro.
Corria o mês de Janeiro de 1971. Dou comigo, ao volante do “carocha”, a subir a Av. da Liberdade em Lisboa. O tempo estava chuvoso, chuva tipo “molha-tolos”. Oiço o “cantar” do carro e acelero, entusiasmado ao verificar que toda a avenida tinha luz verde nos semáforos. Reparo que deixo para trás, alguns dos “borrados” condutores com receios das condições do tempo e do asfalto.
Num ápice surge a rotunda do Marquês de Pombal. Dou com todos os meus companheiros “de route” parados e perplexos, a assistir ao bailado do “Carocha” que ostentava ainda na traseira um “ovo” amarelo indicativo de velocidade máxima de 90 km que me era permitida e avisador para os demais…… “aqui vai um piriquito”. Qual bailado de cisne em tempo de acasalamento.
O “meu”, ou melhor o “bailado” do meu “Pablo”, foi de tal forma que ainda hoje estou para saber como fui parar ao jardim que circundava a estátua do Conde de Oeiras, Primeiro-ministro e Marquês de Pombal. Atolado no meio das flores, não fora a ajuda do jardineiro e de um polícia sinaleiro, creio que ainda lá estaria especado e com os pés lameados perante o riso de gozo dos energúmenos condutores que pelo local passavam.
Esta rotunda dava-me “galo”. Uma outra vez, não muito distante no tempo, vindo da direcção do Saldanha e querendo cortar à direita, em direcção às Amoreiras, ao sair da faixa do meio, um táxi levou-me o guarda-lamas direito, sendo, por mim, recuperado mais à frente, perante todo o trânsito parado, espectáculo desta vez “brindado” com multa e “recheado” de sorrisos dos passantes, gozo que me levou a retirar para sempre o malfadado “ovo” amarelo.
Também quem não gostava muito destas e outras brincadeiras resultantes em amachucadelas, era o Artur bate-chapas e o Arnaldo pintor, amigos de infância que possuíam uma oficina no Bairro da Graça. Bem dizia o Arnaldo (que comigo em miúdo roubava parte das hóstias ao padre do Bairro quando lhe fazíamos o recado à senhora que as confeccionava): Oh Pica dizia ele… de tantas vezes nos “visitares” é melhor mudares de emprego e vires para cá trabalhar.
Na verdade o “defeito não era meu”, à falta de visibilidade do guarda-lamas do lado direito, o carro andava quase sempre batido, ao ponto de sair da garagem com o “Carocha” como um “brinco” e junto ao Miradouro de Santa Luzia, para aí mais mil metros à frente, ainda na região do Bairro da Graça, bater na traseira de um outro carro, tal a distracção ao admirar uma flausina lisboeta. Já era azar!
No entanto, convencido continuava a não haver melhor “volante” em Lisboa e arredores. Vaidoso, lá continuava a buzinar ao som do rugir da vaca.
Como era boa a vida de Lisboa. Quem me dera ter outra vez vinte anos…
Não fui capaz de segurar as lágrimas, dois anos depois, quando por 10 contos (cinquenta euros) me desfiz do primeiro carro.
1 comentário:
Menino bonito, já começou a mexer...fazes favor de não parar OK
'brações Zé
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