… PARTIR O RIPADO Á AMÉLIA… NÃO SE FAZSorte a minha de não partir no canastro o que quer que fosse. Já assim não aconteceu com (o ripado) a Amélia. Que em monumental “chavascal”, fez do acontecimento noticia de “1ª página” no meu Bairro das Furnas.
O triciclo era de modelo inglês, encontrado no lixo pelo meu pai. Com a intenção de o restaurar responsabilizou um homem dado à bricolage. Pai da minha sobrinha Madalena e meu cunhado. Deu-o como presente, já quando pronto, a esta sua 1ª neta, tinha ela 3 anos de idade.
O triciclo, aos meus olhos e a muitos outros olhos dos rapazes do meu Bairro das Furnas, sobretudo aos da minha rua, era lindo. Era estonteante a vontade de o conduzir, em possui-lo. Não havia muitas crianças no Bairro que tivessem o privilégio de terem triciclos e, como aquele muito menos. Era o único modelo existente. Tinha o assento comprido pintado de vermelho, as rodas eram grandes e estavam pintadas de preto. A roda da frente era mais alta que as detrás e, entre estas, sobre o eixo que as seguravam, também pintada de vermelho, estava fixada uma tábua com sítio próprio para a colocação dos pés, permitindo aos miúdos mais crescidos a opção de utilizarem tal “velocípede” com uma maior velocidade, comparativamente aquela que tinham a pedalar na posição de sentados.
Rapazola, já na escola
, 3 ou 4 anos mais velho da idade da minha sobrinha, o período da tarde era dado a brincadeiras. Aproveitando, sempre que possível, pela hora da sesta da menina, furtar despercebidamente tal “velocípede”, no intuito, com a malta mais chegada, desenvolver acções de destreza e de mestria, em velocidade, nas ruas do bairro.De todo o modo, é sabido que os triciclos, mesmo grandes que fossem, não tinham travões. Os “espigadotes” quando os utilizavam e necessitavam de parar deixavam de pedalar ou em alternativa, se a velocidade fosse maior, a solução era forçar os pés à “roçadura” pelo asfalto, ou mesmo forçar o seu estatelamento na “pista” quando os pés estavam descalços.
O habitual “velódromo” era na rua que começava junto ao Centro Social e terminava, uns metros antes do ripado do quintal da Amélia, no início da rua dos Choupos, no lado Este do bairro. Rua com uma inclinação considerável, sobretudo at
é meio. Do lado direito da via existia uma pequena faixa de terra com chorões plantados. A cor destas plantas era amarela ou rosa. A seguir, em paralelo com a plantação dos chorões, existia uma sebe cuja altura variava entre 3 a 4 metros, com ramos erectos, pendentes e cobertos por espinhos que davam como “fruto” uns grãos de vermelho vivo (Pyracanta) que ao mastigá-los depressa eram cuspidos pelo amargo de boca que faziam, mas indispensáveis para as “batalhas” de arremesso através dos pequenos tubos de ferro. Esta sebe servia de vedação às hortas e aos viveiros de jardim que, o Sr. Zé, sob orientação do Fiscal Costa, cuidava primorosamente, sendo que os chorões, serviam de escape para travagens do “velocípede”, sobretudo, na hora das provas, quando a “pista era invadida” por alguns passantes..Mesmo assim, para que a velocidade não fosse tão vertiginosa, o local das partidas
começavam a meio dessa rua, no espaço que dava acesso à rua dos “Lés-Lés” e onde morava também o Sr. Caixinha que era revisor da CP. Ficando situada a meta no final dessa rua, mais propriamente no cotovelo que dava acesso à Rua dos Choupos. Hoje essa rua dá pelo nome de Costa Mota e a Rua dos Choupos, passou a ser o Largo Calouste Gulbenkian.Acontece que uma das vezes a adrenalina estava no auge. Este rapaz vaidoso e seguro da sua mestria e destreza na condução de tal veículo, entendeu colocar a partida no ponto mais alto da descida. E não contente pediu, aos demais que o assistiam, que o empurrassem até se perderem na corrida do acompanhamento. E mais não digo, a não ser que não consegui fazer a curva em cotovelo para a Rua dos Choupos, estatelando-me, claro está, no ripado da Amélia. E não queiram saber o sururu que foi na minha casa.
O desenho do triciclo é da autoria
Do autor. As fotos das planas são
Retiradas do Google
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