domingo, 3 de junho de 2012

AS FESTIVIDADES EM HONRA DO STº ANTÓNIO NA CIDADE E NO MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS XXI

…Como contente ficava, aquando menino, pela “ajuda” que, o seu nome (Stº António), prestou nos "ganhos” com a pedinchice, para comprar as gulosices, os bilas, as pevides, os tremoços e os amendoins...
…As bandeirinhas, em forma de triângulo, eram coladas numa comprida guita. O miolo do pão desfeito em água, com a farinha, era a cola utilizada...
…Também alguém não se esquecia de colher alcachofras em flor, para aferir, depois de queimadas no fogaréu, se tornavam a florir...

Adorado pelo povo, sobretudo o de Lisboa, Stº António era (é) conhecido como o protetor dos pobres, do auxílio na busca de pessoas ou objetos perdidos. Amigo nas causas do coração, nomeadamente no auxílio às moças solteiras a encontrar noivo.
As festas na cidade, visam, homenagear este alfacinha de “gema” tão amigo do povo. E é nos bairros populares que teem maior expressão. Estas festividades desenvolvem-se por vários dias, mas é na noite de 12 para o dia 13 de Junho, o feriado municipal em sua honra, que se verifica maior frequência das gentes nos arraiais montados.
Não faltam os vasos, de tamanhos variados, com os manjericos. São enfeitados com cravos e, pequenas bandeiras de papel que, ostentam frases/rimas/quadras bem populares e brejeiras para se oferecer aos namorados ou para “interesses do coração”.
Ao som das músicas dos quintetos e das charangas, “embrulhados” nos cheiros das sardinhas, das fêveras e dos pimentos assados, tudo regado com vinho a granel, sangria ou cerveja. O povo não perde a oportunidade de dançar ao ritmo das músicas populares com trechos bem conhecidos. Na ressaca não falta na malga de barro, bem quentinho, o tradicional caldo verde.

O manjerico comprado
Não é melhor que, o que dão.
Põe o manjerico ao lado
E dá-me o teu coração.

Como recordo as noites passadas, nas antigas festividades em honra do Stº António e, dos outros Santos Populares. Também relembro, aquando moço, as alegrias e o contentamento nas noites perdidas em folia,  no meu velho Bairro das Furnas, mas também nos mais variados bairros da cidade.
Como contente ficava, aquando menino, pela “ajuda” que, o seu nome (Stº António) prestou nos "ganhos” com a pedinchice, para comprar as gulosices, os bilas, as pevides, os tremoços e os amendoins.

No trono do Stº António
Todo o dia vou ficar
Vou pedir tostõezinhos
Para guloseimas comprar

Por esta ocasião, as ruas do velho bairro, eram ornamentadas por bandeirinhas de papel. Para a construção e montagem dos enfeites, dias antes, a população organizava-se, miúdos/as e graúdos/os todos ajudavam.
As bandeirinhas, em forma de triângulo, eram coladas numa comprida guita. O miolo do pão desfeito em água, com a farinha, era a cola utilizada. Estas correntezas de bandeirinhas, de cores diversas, colocavam-se cruzadas, ou não, na frontaria das casas atravessando a rua.
Na maioria das janelas e nas portas, sobretudo nos quintais virados para a frente, haviam vasos com manjericos. A minha rua – a dos Plátanos – quer no princípio, quer no fim, era ornamentada com folhas de palmeira cortadas do arbusto, existente na frente da casa da D. Estrela.

Na rua atravessa a bandeirinha
A janela tem o manjerico
Para um dia seres minha
Vou pedir-te o namorico

Na minha adolescência, nos bailes, eram férteis os “affaires” com as raparigas. Que saudades dos bailaricos ornamentados e decorados com balões de variadas cores. Havia um arraial logo na entrada do bairro, no pequeno largo na frente da praça e, lá ficava montado até as festas, em honra dos 3 Santos populares. Também era comum “visitar” os arraiais montados nos vizinhos bairros, das Águas Boas, do Calhau, e, do Bairro do Grandela.
Mais espigadote a festança também era dividida pelos largos, becos, vielas e ruas de outros tantos bairros desta minha cidade que é Lisboa.

Como me dava gozo (e trabalheira) recolher a madeira com vistas a acender as fogueiras. Por essa ocasião a ansiedade na espera pela noite era muita. Também alguém não se esquecia de colher alcachofras em flor, para aferir, depois de queimadas no fogaréu, se tornavam a florir. Quando não fôra assim, era sinal que, o amor por quem se desejava, não tinha reciprocidade. Bem tristes ficavam as raparigas. Enquanto os rapazes malandrecos…

Ou ela não usa calças
Ou as tem na lavadeira
Dei por isso ontem à noite
Quando saltava à fogueira

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