segunda-feira, 22 de outubro de 2012

HISTÓRIAS DO MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS E NÃO SÓ (XXXII)


TROVAS ANTIGAS, SAUDADES LOUCAS

…Bom dia!
Bom dia! Retorqui.
…Queria falar com o JRP!
Quem fala?
…Fernando Bretes!
Pergunto interrogado; Fernando Bretes?
…Sim é (sou) o Fernando Bretes. Responde o meu interlocutor do outro lado da linha do telefone.
Conheço um Fernando Bretes! Concluo.
…Pois é, Fernando Bretes há só um! Sou eu e mais nenhum!
Pela resposta comecei a ter menos incertezas de ser o homem que, há décadas, não sabia do seu paradeiro. Não que, não tivesse perguntado por ele, mas quem me podia dar respostas, também a alguns anos não o encontrava.



Intrigado, foi a vez de o Fernando fazer as suas perguntas.
…Então de onde me conhece?
S. Domingos de Benfica, Bairro das Furnas, Bairro Grandela, Estrada de Benfica, diz-lhe alguma coisa?
…Claro que me diz, foram os locais onde cresci e vivi!
…Locais onde tenho a maior parte dos meus amigos de sempre!
…Mas, posso saber quem está ao telefone?
Claro que podes, sou o Raul Pica Sinos!
…Eh Raul que saudades! Que bom! Há quantos anos amigo!
…Como estás? Temos que beber um copo!
…Tens visto o “Cataré”? O José Caetano? Sabes, sou o padrinho do casamento dele com a Alice!
…Há anos também não o vejo.



O nosso encontro não se fez esperar.



Numa tarde deste Outono, levo comigo o amigo comum, José Caetano, ao encontro.
Em “volta” de um divinal bacalhau assado, com batatas a murro, bem regado com o “Esteva do Douro 2010” da Ferreirinha, tinto já se vê, no já célebre Restaurante Pancitas, em Queluz de Baixo, a conversa levou horas a relembrar o passado.

Antes no Café “Neusa”, em Queijas, naquele dia em que, o sol brilhou mais, foi bonito de ouvir, os justificativos pelo tempo de tanta ausência.
Naquele dia 20 de Outubro de 2012, os abraços sentidos foram bem fortes, sobretudo entre o padrinho e o afilhado.
Foi comovente observar umas quantas lágrimas caídas de alegria e, de afeição entre os dois amigos.



Bem mais tarde, com o aproximar do pôr-do-sol, com a promessa de um novo encontro para breve, os brindes da despedida com o vinho de Murça acontecem!
No regresso, no carro que nos transportou, o fado sucedeu!




Trovas antigas, saudade louca
Andam cantigas a bailar de boca em boca
Tristes bizarras, em comunhão
Andam guitarras a gemer de mão em mão



Chegados ao local da partida, à nossa espera a D. Alice, a irmã do meu amigo e, um conjunto de outras senhoras não menos amigas que, perante a nossa visivel alegria e satisfação, resultante dos diversos “saluté” pela vida e, por desejos da rápida dissipação da presente crise que, assola o país, receberam-nos sorridentes e, entusiasticamente falando.
A D. Alice, mulher do meu amigo de antanho, resolveu, dada a demasiada “satisfação” do seu homem, de pronto recolher aos seus aposentos, sózinha, não sabendo o autor deste registo, da existência, em sua casa, do chamado “rolo da massa” e, de um sofá com vistas ao merecido descanço do seu marido.

Notas:
A primeira foto resulta de uma montagem fotográfica da autoria da Teresa Carvalho as restantes são da responsabiliade do autor

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

FOI NUM DOMINGO DE OUTONO



 

O MEU PRIMEIRO ENCONTRO COM OS SUPANOS


Não sei precisar o dia que, ao telefone oiço uma voz muito familiar!
...Oh pai, a Lisa quer falar contigo, faz o favor de lhe ligar.
De pronto assim o fiz.
...Olha lá Pica Sinos, queres ir ao almoço convívio do pessoal da Supa, do teu tempo, é no próximo dia 14 de Outubro?

Instalada no Palacete Falcarreira, em Lisboa, mais propriamente na Rua do Salitre nº 136-1 º, a Casa do Ribatejo, tem, como todas as instituições no género, o objetivo engrandecer e prestigiar toda a região ribatejana.
Tem vindo a servir de ponto de encontro dos ribatejanos e amigos do Ribatejo a viver ou não na capital.

Não sei da motivação deste Encontro de Outono dos Supanos72/2012, neste tão nobre palacete, onde, a minha mulher, como boa ribatejana se sensibilizou e, muito, por estar em “sua casa”.
Também dizer que, foi com sentida satisfação ter recebido o convite para me juntar no almoço, com antigos colegas do “Pão de Açúcar”, eventos que, segundo me disseram, têm vindo a serem realizados há cerca de 13 anos.
Foi muito boa a tarde daquele domingo, 14 de Outubro de 2012.
Ter a oportunidade de ver, beijar e abraçar colegas que, há cerca de 4 décadas não tinha esse prazer, foi muito gratificante.


As conversas, as recordações, seguidas por um excelente menu da região ribatejana, certamente escolhido pelos organizadores foi tudo uma delícia.
O convívio foi muito animador e repleto de alegria.
Espero ser, numa próxima oportunidade, igualmente convidado.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

UM DIA DESTES APANHO O 28

…Oh pai! Porque não vamos dar uma volta no 28?
…No ponto de vista turístico é muito interessante!
…Os miúdos nunca andaram de electrico, eu, há muito, também não.
… Levamos a família, é capaz de ser giro!
…Alinhas?

Este convite fez-me lembrar os meus “passeios” por Lisboa, nos primeiros anos em trabalho na Robbilac, quando na função de paquete, na procura de obras em edifícios, sobretudo para restauro da pintura exterior.
Eramos 2 paquetes com esta função.
Eu e, o João Sequeira, percorríamos na maior parte a pé, a cidade em cruz. De Algés até aos Olivais, das Portas de Benfica ao Cais do Sodré, eram os nossos caminhos na procura das obrigatórias “balizas” em madeira que, a Camara Municipal mandava colocar, com vistas a sinalizar o espaço ocupado com a obra no edifício.

Tínhamos as trajectórias organizadas por rotas diárias. Se o meu camarada ia para o norte eu encontrava-me a sul.
Se no percurso lhe estava destinada a zona Este, eu estava situado a Oeste.
O giro visava os “cantos”, becos, azinhagas, ruas e avenidas da capital.
De quinze em quinze dias, as zonas eram trocadas o que, obrigava, fizesse chuva ou sol, num período de um mês, percorrer esta minha terra natal.
Objectivo: procurar as citadas e obrigatórias “balizas” em madeira, identificando o dono da obra, para posterior visita do vendedor, com vistas à promoção e venda dos materiais a utilizar.

Foi atrás referido que, a maioria do percurso, pelas ruas de Lisboa, era feito a pé.
É verdade.
Quando utilizava os “amarelos”, era na modalidade de “pendura”.
O dinheiro do custo dos bilhetes era-me ressarcido, a troco dos tickets que, entregava encontrados no chão.
Sempre dava para comprar uns cigarritos avulsos.
Tenho algumas saudades desse tempo.
Tenho saudades do “amarelo”.

Tlim, Tlim,
Vou aceitar o convite da minha filha Sofia.
Vou com a família apanhar o 28 e, “beijar” 4 (Castelo, São Vicente, Graça e Camões) das 7 colinas da cidade que me viu nascer.

Fotos:
Perdidas no Google

domingo, 14 de outubro de 2012

HISTÓRIAS DO MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS (XXXI)


NÃO HAVIAM MULHERES, NA LUTA DO DIA-A-DIA, MAIS DEDICADAS
PELO BEM-ESTAR DAS FAMÍLIAS

No blog – (Histórias do meu velho Bairro das Furnas (IX)) – redigi um apontamento, narrando a luta das jovens mulheres, do meu velho Bairro das Furnas, pela sua emancipação, fundamentalmente no período dos anos 60.
É o meu ponto de vista!
Fui testemunha dos factos nessa década.
Ainda quanto à indumentária, é minha vontade acrescentar a esse meu apontamento, uma outra observação ao descrito no livro “O Nosso Bairro”, ora respeitante às mulheres não tão jovens, as suas responsabilidades com o lar, com os filhos, maridos e, com o trabalho.



Na presente análise, situo-me na época onde o regime defendia uma política fascista, social e económica que, a todos afectava, às mulheres duplamente.
Propagandeava-se que, para a sustentação de um lar estável, a função da mulher, esgotava-se no ato de dar à luz, na criação e na educação dos filhos.
Reclamar por trabalho fora de casa e, os mesmos direitos dos homens eram actos de rebeldia.
Por isso e, na senda, mesmo tendo em conta o regime sustentado, defendo convicto, neste meu pequeno sumário, que, não devo deixar passar, sem crítica, afirmações escritas de cariz algo duvidoso, atribuídas à generalidade das mulheres do meu velho Bairro.



No estudo das datas;
A autora do monograma inscrito no livro “O Nosso Bairro”, veio trabalhar para as Furnas em 1948, com a função de mestra da Casa de Trabalho das raparigas.
Tinha 20 anos de idade.
Infelizmente morreu em 1996.
Não deixo de referir que, durante 48 anos na observação do trabalho desenvolvido junto das mulheres jovens e, menos jovens, não observou a evolução, no tempo, das gentes do nosso Bairro.



Creio não haver dúvidas se, se referir que, o período da citada observação do trabalho, foi bem suficiente para emendar, reescrever, aprofundar e, investigar as realidades então vividas.
Lamento não o ter feito, porque ficaram para a história, afirmações incertas no monograma que, no geral, estão longe da realidade, são excessivas, algumas em desabono da vida e, da imagem das mulheres, por quem, pela autora, nutriam simpatia.



Também ressalvo não saber, se algumas/uns conterrâneas/os ficarão comigo “incomodadas/os”?
Escrevo sobre do que vi e, do que, procurei saber.
Sou sabedor das muitas simpatias das gentes do meu velho bairro para com a autora do monograma.
Também observei as razões dessas simpatias. Mas ninguém está acima das críticas, mesmo aqueles/as já impossibilitados/as de se justificarem ou defenderem.



Contudo, não é em vão e, sem razões, a atribuição na toponímia do novo Bairro, o seu nome, mas reafirmo; Não entender porque ao longo dos anos, não cotejou a evolução das gentes, com quem de perto e, por muitos anos acompanhou, como refere no prefácio do livro, a vereadora do pelouro da habitação social da C.M.L.

…Muito do desenvolvimento que tem caracterizado as Furnas é em grande parte fruto de um árduo trabalho e de muitas horas dedicadas pelos homens e mulheres que, lá vivem…

Este fragmento do prefácio foi escrito no ano de 2006, mas podia ter sido escrito 30/40 anos atrás, porque não deixava de ser verdadeiro.



As contradições:
Por um lado,
…Não há uma profissão dominante. Há entre os homens vários polícias, serralheiros, carpinteiros, operários especializados ou não, alguns empregados de escritório….
…Há também muitas mulheres a trabalhar fora do lar, especialmente como mulheres-a-dias, vendedeiras ambulantes, ou empregadas em fábricas….
…Os homens andam vestidos como todos os outros na cidade…



Por um outro lado,
…Na indumentária que cada um apresenta, influencia também muito, além dos vencimentos, a mão da mulher.
Se esta é desmazelada, ou não tem tempo, as crianças, o marido e ela própria andam muito pior vestidos, sujos, com nódoas….
Se ela é cuidadosa, toda a família brilha….



A contradição não está nos hábitos que eram (são) impostos à mulher.
Todos sabemos como no passado, a esmagadora maioria das mulheres era duplamente reclamada – no lar – pelos filhos, pelo marido e, duplamente explorada no trabalho.
Referir a mulher como “desmazelada” pela exibição das nódoas que, sistematicamente os maridos apresentavam na sua indumentária, é uma afirmação de elevada injustiça!
O homem onde quer que fosse, por força da sua profissão ou não, na fábrica, na oficina, no trabalho de rua, no escritório ou, na tasca, apresentava-se com a sua indumentária carregada de nódoas e, a “desmazelada” era a mulher.
Ao contrário, a mulher era “cuidadosa” se, o homem procurava trazer a sua indumentária sem nódoas.
Que raio!



Não consegui “decifrar” tal filosofia, a não ser que, muito tenha a ver com o escrito abaixo. Certamente por filosofias visando responder às exigências políticas do regime, com vistas a contrariar a luta das mulheres pela sua emancipação, pela igualdade dos mesmos direitos que, os homens usufruíam:



Refere a Mestra:
…A casa de trabalho, com as suas lições de corte e de costura, e com as novas noções que irão ser ministradas (por exigência politica) às rapariguinhas que a frequentam, sobre a economia doméstica e outros assuntos, certamente que irá ajudar a habilitar as futuras mulheres a mães para a nobre missão de educadoras e de donas de casa….



Como nota final acrescentar:
Nesta data procura-se reunir, um conjunto de textos de amigos/as, com vistas a fazer jus ao trabalho desta senhora que, sei ter granjeado nosso velho bairro das Furnas, diversas simpatias, junto da camadas jovem e não só.
Sou sabedor de diversas iniciativas que abraçou, sobretudo nos finais dos anos 60 e, durante a década de 70 que, ainda hoje a muitos/as deixa saudades.
Sei das suas muitas conversas com as raparigas na esfera do planeamento familiar que, em casa era proibitivo conversar.
Momentos altos foram as iniciativas do foro teatral que, dificilmente alguém, nos tempos seguintes as perdurou.
Será justo referir o relato deste trabalho no seu monograma.
Será justo também referir da obrigação de alguém o anexar.

Nota: imagem da mulher:
Fotomontagem de várias fotos perdidas no Google
da responsabilidade da furniana
Teresa Carvalho (Té)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A "MINHA" MEIA LARANJA DO JARDIM ZOOLÓGICO




JÁ NÃO BROTA O “SUMO” QUE OUTRORA BROTARA


Durante meio século, poucas foram as modificações verificadas na “minha” meia laranja!
Direi mesmo, no passado, produziu muito mais “sumo” que, nos dias de hoje.
Agora, votado praticamente ao desamparo, sujo e mal estruturado, está longe de ter a mesma importância, brio e vivacidade de outrora!


Foi dado, a este espaço, o nome Largo Dr. Manuel Emídio da Silva, individualidade de reconhecido mérito, responsável desde 1904, por diversos cargos na administração do Jardim Zoológico, inclusive o de Presidente 1934/36.
O Largo em referência dava acesso, ao que, foi classificado durante muitos anos, de importante “ponto de encontro da cultura”.
Quem visitasse o parque zoológico, maravilhava-se pela riqueza da sua vegetação e, da fauna, carregado de muitos animais exóticos, importados de todos os continentes do mundo.


Tal relevância, na cidade e no país, mereceu neste Largo, a construção de um desdobramento do ramal (raquete como lhe chamam os entendidos) das linhas dos carros eléctricos, na carreira nº 1-Benfica.
A nova carreira (1-A), começava nos Restauradores, passava pela Av. da Liberdade, S. Sebastião da Pedreira, terminando no citado largo. Não me ocorre o custo do bilhete para o transporte dos passageiros. A não ser o preço do “operário” que, faço referência mais abaixo.
Foi também autorizado o estacionamento para os táxis que, chegavam, sobretudo aos domingos, a esgotar a toma!


Na verdade, toda esta movimentação originava uma vida diferente.


A visita das gentes oriundas, dos mais diversos locais do país, conferia-lhe uma vivacidade que, no presente já não se verifica.
Por muitas pessoas que, hoje, por ali passem, com excepção dos indivíduos com idade mais antiga, dificilmente ajuizarão, saberão, quão importante foi no passado este Largo, para quem por perto vivia.
Nas décadas de 50/60, em redor da “meia-laranja”, os carris dos carros eléctricos.
Em paralelo existia a praça dos táxis.
Recordo, na pequena banca de madeira, na frente da majestosa entrada do Zoo, a Ti Leonor, a vender amendoins, tremoços e diversas guloseimas.


…Olha o balão! É prá menina e pró menino. Olha o balão! Apregoava o seu filho “carregado” de balões de cores garridas, deambulando de um lado para o outro na estrada.
O “Estica” vestido de fato e, kiko branco. Vendia uma gulosice de cores diversas que, tinha o mesmo nome, transportada numa pequena mala, mais parecendo de viagem. O rebuçado já comprido, quando ao chupá-lo estendia-se até ao ponto de se poder dobrar.
“Olha o Estica” apregoava ele repetidamente.

“Século” ou “Noticias” também apregoava, com a sacola ao ombro, bem cheia de jornais, todos os dias, bem cedo, o Ti Zé jornaleiro. Pai do saudoso José Augusto, avô da Cristina e da Mónica Costa.
Como era simpático este Homem, bem amigo dos miúdos.
Pequeno só na altura.
Nas tardes, com a chegada dos vespertinos, “dispensava-me”, sempre meia dúzia de jornais, para os vender nos carros eléctricos, a circular na linha de Benfica.
Tem cuidado dizia-me ele. E eu como resposta cantarolava. “Olha o Popular”, “Olha o Popular”, imitando-o no seu pregão.
Era a oportunidade de andar na pendura no “americano”, sem levar com o alicate do “pica bilhetes” nas mãos.
Como fruto do “esforço” do trabalho sempre me dava, 20 ou 30 centavos, permitindo-me adquirir, à Ti Leonor, uma mão cheia de amendoins e pevides.
Que saudades do Ti Zé.


Recordo o pessoal na esquina do largo, no café “Jardim”, do Gonçalves, mais tarde pertença do Manuel.
Na frente da sua porta, sentados nas caixas da graxa, o “Digatim” e “Porto”, estalando a bom estalo com o pano no sapato do cliente, quando lhe puxava o lustro.
Freguesia ao fim-de-semana não lhes faltava.
Já no final da década, lá dentro do café, existia uma caixa de discos “Jukebox”, onde os jovens colocavam moedas para a fazer funcionar, possibilitando ouvir as músicas e as canções na “berra”.Elvis Peslay, Paul Anka, Little Richard, entre outros.


Ao lado deste café, uma tasca, segue-se o lugar das frutas e hortaliças da Ti Maria e, a petisqueira Caravana.
Mais tarde e, logo ao lado, surge o restaurante “Coral”.
Situado na outra esquina, apresentava-se já o café “Riviera”. Antes, no mesmo local, a tasca do Flores, onde também se vendia carvão ao fundo da mesma.

O primeiro carro eléctrico a partir do Largo era às 5 horas. O carro eléctrico, classificado “para operários”, funcionava ente as 5 e as 7 horas da manhã.
O preço do bilhete custava então 6 tostões.
Era mais caro fora daquelas horas. Ia sempre cheio.
De 15 em 15 minutos partiam. Os horários eram religiosamente respeitados. Algo que, o rapaz, por vezes não honrava por tarde acordar.
Não foram raros os momentos que, saturado da espera do tempo para as saídas dos carros eléctricos nos horários seguintes, sem rebuço, imitava o assobio do “apito de marinheiro” que, o expedidor usava para dar o sinal ao guarda-freio, quando chegada hora da partida.
Quando “pegava”, era digno de se ver o espanto de expedidor, tendo em conta a “desobediência” do condutor.
Apitando o assobio de forma desordenada, o expedidor fazia parar o carro eléctrico, já situado na estrada de Benfica

…. Onde vai? Dizia o expedidor
…. Não mandou partir? Respondia o colega

A risada não se fazia esperar.

Após os jogos no estádio do S.L.Benfica, era costume, os espectadores deslocarem-se, a pé, na direcção da estação do metro em Sete-Rios.
Quando o Benfica perdia, os largatões, não se esqueciam de aparecerem, na porta do café “Jardim”, para abespinharem os benfiquistas.
Antes, acendiam uma ou mais velas, em sinal de “luto” que, colocavam nas águias existentes, no cimo dos pedestais laterais da entrada do Jardim.

Hoje, são diferentes os tempos.

Com a construção da nova entrada do Jardim Zoológico, na frente da estação do metropolitano e, com o desenvolvimento deste importante transporte, a importância do Largo, já não se faz sentir como outrora.
Com a falência do “americano” no circuito da carreira 1-A, os carris foram retiradas, assim como a paragem dos táxis.
A velha, mas sempre majestosa, entrada do Jardim Zoológico, na frente do Largo foi fechada.
Mais recentemente, na restauração das torres, o relevo das paredes não foi respeitado, em clara ofensa à sua antiga arquitectura.
Verificar as suas cúpulas sem brilho, e amolgadas pelo tempo, não faz sentido.
Ao que parece só as ervas daninhas lhe fazem companhia.


No muro que acompanha o círculo, foi retirado o painel alusivo à Revolução do 25 de Abril de 1974.
O quiosque já não é utilizado por degradado e abandonado há anos.
Já não se verifica a estima e a vivência de outrora!
No entanto creio ser o tempo de algo ser reparado e respeitado!

È urgente dar mais vida à “nossa” meia-laranja!


Não sei se a existência dos caixotes do lixo, na linha de corte com a Estrada de Benfica, mesmo na frente da majestosa entrada do Zoo, será o “monumento” mais indicado, para glorificar os tempos e as pessoas do passado?

Foto do Largo:
Montagem da responsabilidade do autor.
Foto do Ti Zé jornaleiro:
Cedência da neta Mónica Costa.
Foto do bilhete operário:
Luís Cruz-Filipe
Foto das torres do Zoo:
Da responsabilidade do autor.
Mural:
Foto cedida pelo criador do mural