domingo, 14 de outubro de 2012

HISTÓRIAS DO MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS (XXXI)


NÃO HAVIAM MULHERES, NA LUTA DO DIA-A-DIA, MAIS DEDICADAS
PELO BEM-ESTAR DAS FAMÍLIAS

No blog – (Histórias do meu velho Bairro das Furnas (IX)) – redigi um apontamento, narrando a luta das jovens mulheres, do meu velho Bairro das Furnas, pela sua emancipação, fundamentalmente no período dos anos 60.
É o meu ponto de vista!
Fui testemunha dos factos nessa década.
Ainda quanto à indumentária, é minha vontade acrescentar a esse meu apontamento, uma outra observação ao descrito no livro “O Nosso Bairro”, ora respeitante às mulheres não tão jovens, as suas responsabilidades com o lar, com os filhos, maridos e, com o trabalho.



Na presente análise, situo-me na época onde o regime defendia uma política fascista, social e económica que, a todos afectava, às mulheres duplamente.
Propagandeava-se que, para a sustentação de um lar estável, a função da mulher, esgotava-se no ato de dar à luz, na criação e na educação dos filhos.
Reclamar por trabalho fora de casa e, os mesmos direitos dos homens eram actos de rebeldia.
Por isso e, na senda, mesmo tendo em conta o regime sustentado, defendo convicto, neste meu pequeno sumário, que, não devo deixar passar, sem crítica, afirmações escritas de cariz algo duvidoso, atribuídas à generalidade das mulheres do meu velho Bairro.



No estudo das datas;
A autora do monograma inscrito no livro “O Nosso Bairro”, veio trabalhar para as Furnas em 1948, com a função de mestra da Casa de Trabalho das raparigas.
Tinha 20 anos de idade.
Infelizmente morreu em 1996.
Não deixo de referir que, durante 48 anos na observação do trabalho desenvolvido junto das mulheres jovens e, menos jovens, não observou a evolução, no tempo, das gentes do nosso Bairro.



Creio não haver dúvidas se, se referir que, o período da citada observação do trabalho, foi bem suficiente para emendar, reescrever, aprofundar e, investigar as realidades então vividas.
Lamento não o ter feito, porque ficaram para a história, afirmações incertas no monograma que, no geral, estão longe da realidade, são excessivas, algumas em desabono da vida e, da imagem das mulheres, por quem, pela autora, nutriam simpatia.



Também ressalvo não saber, se algumas/uns conterrâneas/os ficarão comigo “incomodadas/os”?
Escrevo sobre do que vi e, do que, procurei saber.
Sou sabedor das muitas simpatias das gentes do meu velho bairro para com a autora do monograma.
Também observei as razões dessas simpatias. Mas ninguém está acima das críticas, mesmo aqueles/as já impossibilitados/as de se justificarem ou defenderem.



Contudo, não é em vão e, sem razões, a atribuição na toponímia do novo Bairro, o seu nome, mas reafirmo; Não entender porque ao longo dos anos, não cotejou a evolução das gentes, com quem de perto e, por muitos anos acompanhou, como refere no prefácio do livro, a vereadora do pelouro da habitação social da C.M.L.

…Muito do desenvolvimento que tem caracterizado as Furnas é em grande parte fruto de um árduo trabalho e de muitas horas dedicadas pelos homens e mulheres que, lá vivem…

Este fragmento do prefácio foi escrito no ano de 2006, mas podia ter sido escrito 30/40 anos atrás, porque não deixava de ser verdadeiro.



As contradições:
Por um lado,
…Não há uma profissão dominante. Há entre os homens vários polícias, serralheiros, carpinteiros, operários especializados ou não, alguns empregados de escritório….
…Há também muitas mulheres a trabalhar fora do lar, especialmente como mulheres-a-dias, vendedeiras ambulantes, ou empregadas em fábricas….
…Os homens andam vestidos como todos os outros na cidade…



Por um outro lado,
…Na indumentária que cada um apresenta, influencia também muito, além dos vencimentos, a mão da mulher.
Se esta é desmazelada, ou não tem tempo, as crianças, o marido e ela própria andam muito pior vestidos, sujos, com nódoas….
Se ela é cuidadosa, toda a família brilha….



A contradição não está nos hábitos que eram (são) impostos à mulher.
Todos sabemos como no passado, a esmagadora maioria das mulheres era duplamente reclamada – no lar – pelos filhos, pelo marido e, duplamente explorada no trabalho.
Referir a mulher como “desmazelada” pela exibição das nódoas que, sistematicamente os maridos apresentavam na sua indumentária, é uma afirmação de elevada injustiça!
O homem onde quer que fosse, por força da sua profissão ou não, na fábrica, na oficina, no trabalho de rua, no escritório ou, na tasca, apresentava-se com a sua indumentária carregada de nódoas e, a “desmazelada” era a mulher.
Ao contrário, a mulher era “cuidadosa” se, o homem procurava trazer a sua indumentária sem nódoas.
Que raio!



Não consegui “decifrar” tal filosofia, a não ser que, muito tenha a ver com o escrito abaixo. Certamente por filosofias visando responder às exigências políticas do regime, com vistas a contrariar a luta das mulheres pela sua emancipação, pela igualdade dos mesmos direitos que, os homens usufruíam:



Refere a Mestra:
…A casa de trabalho, com as suas lições de corte e de costura, e com as novas noções que irão ser ministradas (por exigência politica) às rapariguinhas que a frequentam, sobre a economia doméstica e outros assuntos, certamente que irá ajudar a habilitar as futuras mulheres a mães para a nobre missão de educadoras e de donas de casa….



Como nota final acrescentar:
Nesta data procura-se reunir, um conjunto de textos de amigos/as, com vistas a fazer jus ao trabalho desta senhora que, sei ter granjeado nosso velho bairro das Furnas, diversas simpatias, junto da camadas jovem e não só.
Sou sabedor de diversas iniciativas que abraçou, sobretudo nos finais dos anos 60 e, durante a década de 70 que, ainda hoje a muitos/as deixa saudades.
Sei das suas muitas conversas com as raparigas na esfera do planeamento familiar que, em casa era proibitivo conversar.
Momentos altos foram as iniciativas do foro teatral que, dificilmente alguém, nos tempos seguintes as perdurou.
Será justo referir o relato deste trabalho no seu monograma.
Será justo também referir da obrigação de alguém o anexar.

Nota: imagem da mulher:
Fotomontagem de várias fotos perdidas no Google
da responsabilidade da furniana
Teresa Carvalho (Té)

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