Este meu apontamento vem a propósito de ver visto uma fotografia, dando-me a observar, um conjunto de bancos corridos, expostos numa vereda, assentes em blocos de pedra, rodeados de farta vegetação, levando-me a pensar e a sussurrar “onde eu já vi isto”.
Tal retrato mostra três assentos feitos de troncos de madeira. Salpicados de rasteiro musgo, certamente originado pelas intempéries dos anos da existência, parecendo-me abandonados de manutenção.
O responsável por esta fotografia, puro furniano, dá pelo nome de Carlos Nunes. A oportunidade de pessoalmente lhe falar ainda não surgiu, temo-lo feito, tão só por flashes nas páginas sociais comummente acessíveis. No entanto suficientes para saber da sua travessia na vida, quer do velho, quer do novo Bairro das Furnas.
Este apaixonado pela arte de fotografar é neto da saudosa Sr.ª D. Delfina, moradora na principal e, mais comprida rua do velho Bairro (Eng.º Gomes de Amorim). Filho da saudosa Sr.ª D. Irene que, fazia parte do efectivo do pessoal do posto da assistência social aos moradores. Mulheres bem conhecidas e, estimadas pelas gentes do meu velho bairro, sendo certo, hoje, adultos, sobretudo da Sr.ª. D. Irene, não esquecem dos dispensados cuidados enquanto crianças. Na minha passagem, estes seus familiares, sempre me cumprimentaram. No meio dos seus simpáticos sorrisos, como ficava contente por ouvir prenunciar …“olá Raul como estás”… Ruborizado, baixava humildemente a cabeça em sinal de respeito.
A vida também é feita de recordações. Este retrato, durante dias, “martelou” constantemente na minha cabeça. Não resistindo à saudade, num recente dia, fui observar de quanto fiel era todo o local envolvente que, a fotografia projectava. O trajecto escolhido, para a “minha” Mata S. Domingos de Benfica, foi pela estrada do acesso ao Calhau. Foi de propósito. Queria “sentir o atravessar” da passagem de nível do comboio, da inexistente Estação da Cruz da Pedra.
Num pulo, alcanço o Palácio Conde de Mascarenhas, demoro uns momentos a observar o abandonado chafariz do antigo Convento de S. Domingos de Benfica, onde ficava, ao tempo do Marcelo Caetano, o chamado Instituto de Reeducação para raparigas, hoje uma instituição religiosa. Paredes meias, a antiga Capela dos Castros (Igreja S. Domingos de Benfica). Pena minha ter as portas fechadas, escondendo o seu belo, direi mesmo, magnifico interior.
A estremar, recentemente desactivado, o Instituto Militar dos Pupilos do Exercito.
Entre modernos caminhos pedonais e pistas para velocípedes, procuro uma estrada para entrar na mata.
Confesso ter sido algo difícil orientar-me até avistar a velha mina.
Subo mais alto.
Por aqui recordo quando em menino imitava os gritos do Tarzan, tal a parecença com a selva traduzida nos filmes projectados no velho Salão de Festas.
Percorro outras estradas, vejo aqui e ali, novos equipamentos dignos do meio ambiental; Parques de Merendas bem equipados, caminhos pedestres, circuitos de manutenção, parques infantis bem apetrechados, locais no meu tempo não existentes!
Procuro a fonte onde enchi vezes sem conta garrafões de pura água da mina e, onde namorei, troquei beijos e, abraços sempre que, as oportunidades surgiam.
Sinto tristeza pelo seu abandono, não tem o brilho de então. Um pouco de tinta branca fazia toda a diferença.
Por perto, imediatamente na vereda abaixo, já não vejo o lago dos patos, onde torci um pé ao saltar, quando vazio, na procura dos peixes retidos num pequeno refugio, mesmo no seu meio. Hoje, em sua substituição, um bonito parque desportivo incorporando um campo de basquetebol e, uma torre de pedra para escalar.
Sigo para o regresso. Encontro o conjunto dos três bancos corridos, assentes em blocos de pedra, rodeados de farta vegetação que, a fotografia ostentava.
Foram momentos de grande nostalgia. Um dia destes vou voltar para novamente me sentar nos bancos feitos de pau e, matar as saudades.
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