quinta-feira, 1 de novembro de 2012

TENHO SAUDADES DE A TER AO MEU COLO


Ficava inquieta ao pressentir a minha chegada na entrada da rua.
Era sempre a primeira, ao meu encontro, quando a casa chegava.
No seu cumprimento não deixava de partilhar algo bem seu.
Entregava nas minhas mãos satisfeita, ora, o seu osso higiénico, ora um dos muitos brinquedos que tinha espalhado pela sala. O seu rabito erguido não cessava de abanar. Depois, corria, desenfreada para o seu canto no sofá da sala, só repousando quando lhe afagava a cabeça e, o seu lindo pêlo encaracolado.

A Kika, que, comigo partilhou os 12 anos da sua vida, estava sempre atenta a todos os movimentos como de um vigilante se tratasse.
Era cruzada. Sua mãe, caniche de pura raça, numa noite “perdida de amores” por um cocker, originou o misto.
Do pai, apenas “herdou” as patas que, eram largas com as unhas bem fortes.
Da mãe todo o demais.
Rafeira pois claro. Mas elegante, com atitude no porte, bonita como de raça pura se apresentasse.
O seu pêlo, de cor branca, "convidava-me" constantemente a acariciá-lo.

Creio não exagerar se disser que, o amor de um cão, ou de uma cadela para com o seu dono é, para toda a vida. Para um cão, ou para uma cadela, nada importa se o seu dono é rico ou pobre, se é desta ou daquela cor e, muito menos a sua condição de vida.
Desde que, o dono lhe retribua respeito pela sua liberdade, formas de estar, atenção e mimos, não sei se é justo dizer que, não há gesto superior no amor, lealdade e respeito. Direi que, o seu amor não se esgota, mesmo, quando por vezes são maltratados por gente de atitude, na grande parte das vezes, desenquadradas no respeito por todo o ser vivo.

A minha “caniche” não veio de França, país onde a raça é oriunda.
Inteligencia não lhe faltava. Enquanto pôde saltar para a minha cama, dormia aos meus pés.
De manhã, bem cedo, para o seu passeio matinal, acordava-me, ora lambendo-me, ora juntando a sua cabeça à minha, procurando saber pela minha respiração se estava ou não acordado.

Era natural Quinta do Conde , Sesimbra, veio para minha casa pela mão da minha filha Catarina, ainda não tinha 4 meses.
Levámo-la umas quantas vezes a visitar a família da menina que, a viu nascer e, quem por ela muito chorou na partida.
Deixávamos também observar os pais da Kika o seu rebento.
Como foram bonitos estes momentos.

Segundo os entendidos, esta raça de cão tem muita apetencia e agilidade na água, curiosamente a minha Kika não gostava de tomar banho.
Também era um martirio quando presentia a ida ao verternário. Termia como varas verdes.
Não imagino o seu sofrimento quando por lá esteve internada, uma semana, por sujeita a uma operação cirurgica para retirar quistos nascidos na barriga.
Morreu muito mais tarde.
O seu coração, as suas pernas, por avanço na idade, já não aguentavam os passeios pelo jardim.
Nunca foi privada de o visitar, por vezes, nos momentos mais criticos, levava-a ao colo .
Nunca deixou de ter a oportunidade de cheirar a relva e, de contribuir com as suas necessidades fisiológicas nos “territorios demarcados” .
Tenho muitas saudades desta minha grande amiga e, de a ter ao meu colo.

Na foto a Kika ao colo do meu neto Luis

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