CONTADAS ÀS MINHAS NETAS
Num recente dia passado, eu e as netas
avistamos, na vila onde moramos, equídeos no pastoreio.
…Já andaste de cavalo…? Pergunta-me uma
delas.
A outra sem esperar pela minha resposta
refere:
…Eu já, por duas ocasiões com o meu pai…!
Concluindo a autora da pergunta:
…Eu montei um pónei, numa exposição
agrícola na Praça do Comércio em Lisboa...!
E em uníssono referem as duas;
…E tu? Já andaste…?
E seguidamente perguntam:
…Quando no levas a andar de cavalo…?
Podemos,
logo, pela tarde, andar de “cavalo”, como na vossa idade eu andava retorqui!
Interrogadas
perguntam:
…Então
como…?
No velho Bairro das Furnas, lá
em casa, havia um modelo de cavalo de baloiço, feito de madeira, bem bonito,
mas longe de satisfazer a minha imaginação de bem cavalgar.
Os pés chegavam ao chão, quando pousados no
“estribo”, tendo em conta o meu tamanho, ocasionava, os joelhos ficarem em
posição incómoda, dificultando o acesso para agarrar o pau no pescoço do cavalo,
a servir de “rédeas”.
A minha preferência ia para
os “cavalos” feitos de cana, se bem que não fosse fácil adquiri-los. Quando
aventurados e conseguido, com os demais parceiros das brincadeiras, ninguém
segurava a rapaziada nas correrias, nas chilreadas e nas batalhas desenvolvidas
nas ruas do velho bairro.
A pequenada sentia-se feliz, realizada, não
só por ultrapassado o ingénuo risco de “roubar” a cana, mas também pelas
brincadeiras originadas.
No velho bairro e em seu redor, que me
lembre, havia 2 caniçais:
Um deles estava situado ao fundo do terreno
dos jardineiros, mesmo na entrada da Rua dos Choupos, paredes meias com o
quintal da Amélia-alta.
O outro caniçal estava situado por detrás
dos tanques, nos terrenos afectos à oficina do caminho-de-ferro, um pouco antes
da serração do mármore.
As canas destes 2 caniçais serviam de suporte
às plantações, no caso do terreno dos jardineiros, para apoio das flores e
sebes espalhadas no bairro.
Nos terrenos situadas entre o muro do
bairro e a linha do caminho-de-ferro, à beira do caneiro, geralmente as canas
serviam para suporte dos produtos agrícolas (feijão,etc) que os operários
ferroviários cultivavam.
No terreno do bairro, geralmente já noite, para
cortar as canas, tinha que ser em momentos livres dos olhares da vizinhança. Cortávamos
a cana bem no meio do canavial, para que não se detectasse a falta pelos
jardineiros.
No terreno da companhia dos
caminhos-de-ferro; um ou dois saltava o muro do caneiro, um outro ficava do
lado de dentro para receber o produto “roubado”, mas antes era verificado se
nenhum dos operários estava por perto.
A cana era escamada, ficando uma pequena
ramagem na ponta a fazer de rabo. Um cordel era atado na parte mais grossa da
cana a fazer de rédea. O “cavalo” estava pronto.
O “cavaleiro” ficava equipado quando
ostentava, na cabeça, um chapéu de 3 bicos feito de papel de jornal, ou outro
papel a jeito. Enfiada na cintura dos calções, ou suportada por um cinto feito
de trapo, era visível a espada de pau. A “guerra” vinha a seguir.
Fevereiro 2014
E o Justo disse:
E o Justo disse:
Gostei, como sempre!! Aprecio a narrativa "ao corrido" típica dos teus textos. Tiveste a sorte de na meninice viver simultaneamente na cidade e no campo, daí esta e outras vivências anteriores, ligadas a esses cenários. Lembro-me de pelo Natal ver numa drogaria na Rua da Condessa um cavalo do género destes mas em madeira, com uma rodinha e uma cabeça de cavalo pintada, com duas pegas laterais. Ainda recordo os brinquedos de lata e até do cheiro das tintas com que eram pintados. Mais uma vez...palminhas ao amigo Raulão. Abraços
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