domingo, 16 de fevereiro de 2014

HITÓRIAS DO MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS (XLII)


CONTADAS ÀS MINHAS NETAS

Num recente dia passado, eu e as netas avistamos, na vila onde moramos, equídeos no pastoreio.
…Já andaste de cavalo…? Pergunta-me uma delas.
A outra sem esperar pela minha resposta refere:
…Eu já, por duas ocasiões com o meu pai…!
Concluindo a autora da pergunta:
…Eu montei um pónei, numa exposição agrícola na Praça do Comércio em Lisboa...!
E em uníssono referem as duas;
…E tu? Já andaste…?
E seguidamente perguntam:
…Quando no levas a andar de cavalo…?

Podemos, logo, pela tarde, andar de “cavalo”, como na vossa idade eu andava retorqui!
Interrogadas perguntam:
…Então como…?

 Foi uma tarde bem engraçada não só por ouvirem a história, mas sobretudo por “cavalgarem” como o avô “cavalgara” quando na idade delas.
No velho Bairro das Furnas, lá em casa, havia um modelo de cavalo de baloiço, feito de madeira, bem bonito, mas longe de satisfazer a minha imaginação de bem cavalgar.
Os pés chegavam ao chão, quando pousados no “estribo”, tendo em conta o meu tamanho, ocasionava, os joelhos ficarem em posição incómoda, dificultando o acesso para agarrar o pau no pescoço do cavalo, a servir de “rédeas”.

A minha preferência ia para os “cavalos” feitos de cana, se bem que não fosse fácil adquiri-los. Quando aventurados e conseguido, com os demais parceiros das brincadeiras, ninguém segurava a rapaziada nas correrias, nas chilreadas e nas batalhas desenvolvidas nas ruas do velho bairro.

A pequenada sentia-se feliz, realizada, não só por ultrapassado o ingénuo risco de “roubar” a cana, mas também pelas brincadeiras originadas.
No velho bairro e em seu redor, que me lembre, havia 2 caniçais:
Um deles estava situado ao fundo do terreno dos jardineiros, mesmo na entrada da Rua dos Choupos, paredes meias com o quintal da Amélia-alta.
O outro caniçal estava situado por detrás dos tanques, nos terrenos afectos à oficina do caminho-de-ferro, um pouco antes da serração do mármore.

As canas destes 2 caniçais serviam de suporte às plantações, no caso do terreno dos jardineiros, para apoio das flores e sebes espalhadas no bairro.
Nos terrenos situadas entre o muro do bairro e a linha do caminho-de-ferro, à beira do caneiro, geralmente as canas serviam para suporte dos produtos agrícolas (feijão,etc) que os operários ferroviários cultivavam.
No terreno do bairro, geralmente já noite, para cortar as canas, tinha que ser em momentos livres dos olhares da vizinhança. Cortávamos a cana bem no meio do canavial, para que não se detectasse a falta pelos jardineiros.
No terreno da companhia dos caminhos-de-ferro; um ou dois saltava o muro do caneiro, um outro ficava do lado de dentro para receber o produto “roubado”, mas antes era verificado se nenhum dos operários estava por perto.

A cana era escamada, ficando uma pequena ramagem na ponta a fazer de rabo. Um cordel era atado na parte mais grossa da cana a fazer de rédea. O “cavalo” estava pronto.
O “cavaleiro” ficava equipado quando ostentava, na cabeça, um chapéu de 3 bicos feito de papel de jornal, ou outro papel a jeito. Enfiada na cintura dos calções, ou suportada por um cinto feito de trapo, era visível a espada de pau. A “guerra” vinha a seguir.
Fevereiro 2014

E o Justo disse:
Gostei, como sempre!!
Aprecio a narrativa "ao corrido" típica dos teus textos.
Tiveste a sorte de na meninice viver simultaneamente na cidade e no 
campo, daí esta e outras vivências anteriores, ligadas a esses cenários.
Lembro-me de pelo Natal ver numa drogaria na Rua da Condessa um cavalo 
do género destes mas em madeira, com uma rodinha e uma cabeça de 
cavalo pintada, com duas pegas laterais.
Ainda recordo os brinquedos de lata e até do cheiro das tintas com que 
eram pintados.
Mais uma vez...palminhas ao amigo Raulão.
Abraços

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