quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O TRABALHO (I)

No passado, o conceito do trabalho, na generalidade das famílias, era muito diferente do de hoje. As dificuldades da vida obrigavam a que os jovens, sobretudo das famílias mais humildes, fossem trabalhadores por conta doutrem muito cedo.

No meu caso ainda não tinha acabado a instrução primária, já os meus pais tinham feito compromissos para o meu emprego com um latoeiro/funileiro.Este primeiro estabelecimento para onde fui trabalhar, o do Sr. António Nabais, estava situado na Estrada de Benfica, junto à Cruz da Pedra, e consistindo o meu serviço, como aprendiz de funileiro, entre recados, actuar com um engenho, parecido ao picador de carne manual, mas em tamanho “Big Doble”, que permitia fazer cortes redondos em chapas zincadas, folhas de Flandres ou de alumínio, para substituição dos fundos das panelas, tachos, regadores, baldes, etc. que os fregueses entregavam para substituir. Mudados os carretos da máquina, permitia ainda fazer as dobras, engatar e comprimir as mesmas, ficando os utensílios prontos a serem de novo utilizados.

Foi de pouca duração a prestação do meu trabalho nesta oficina de latoaria, porque, passados três ou quatro meses, detectei que o Sr. Nabais, para testar a minha honorabilidade, colocou no chão, uma nota de 20 escudos, simulando que a tinha deixado cair inadvertidamente, situação que me chocou grandemente.

Quando a situação se repetiu em outra ocasião, nessa mesma tarde, já não fui trabalhar, não antes de minha mãe se importunar com o Sr. Nabais e de lhe dizer que o meu filho era de família pobre, mas sabia, tal como a sua família, respeitar e honrar o nome dos Pica Sinos.

A minha segunda ocupação foi na oficina do Sr. Américo Santos, também na Cruz da Pedra, que construía, através de moldes, trabalhos em torno mecânico, fundamentalmente salvas, baixelas, taças e outras peças decorativas e, cromadas posteriormente. Arear/polir estas peças, era o meu trabalho. Artefactos feitos em chapa de latão e cobre, cromados por processo de imersão de banhos electrólitos, num tanque existente no quintal. O meu salário era 7$50 por semana (em euros cerca de 3.5 cêntimos).

Recordo uma vez, que fui a Campolide buscar umas calças ao alfaiate do Sr. Américo Santos. Quando no balcão, aparece um indivíduo que me pareceu um “miúdo” a quem logo digo…"chama lá o teu patrão"….Este, responde com voz grossa…"Diz lá o que queres"…Até estremeci! Era um anão. Fiquei tão encavacado que me esqueci de pagar ao homem. Sabia o que era um anão mas nunca tinha visto um assim de perto.


Foto: No Bº das Furnas, na rua onde morava, eu e a minha mãe depois de um dia
de trabalho na oficina do Sr. Américo Santos

4 comentários:

José Justo disse...

UÁU...Grande trabalho, até estou de boca aberta rapaz...com música e tudo !!??

Mas isto se não é milagre, anda lá perto !

Nunca tinha visto um Blog com música, embora já me tivessem falado nisso, é espectacular...dá logo outra vida.

Como é que descobriste isto ?

Gostei do texto e de te ver "canininho", eras pequeno, agora és o maior.

Continua rapaz, um grande abraço e parabéns pelo trabalho.

E vê lá se tiras a treta da verificação de palavras !!! OK

José Justo disse...

Boa...agora é mais prático e rápido deixar os comentários.

Um abraço

José Justo disse...

Amigão
Com a preciosa ajuda da minha filhota já atinei com a muúsica no Blog.
Fiz uma cábula cá à minha maneira e de futuro é só mudar .
És um amigão rapaz.
Obrigadinho e dois queijos. Zé

leandro guedes disse...

Razão tinha eu em dizer, que precisa de me retirar para o blog ganhar sangue novo, outra vida.
Parabens Pica Sinos.
Está um espanto o teu blog - paradinho durante algum tempo mas agora com todo o esplendor.
Parabens amigo.
E não te esqueças também do blog do Bart.
E tu também Zé Justo.
Ainda estou sem computador.
Um abraço amigos.
Leandro Guedes