segunda-feira, 6 de agosto de 2012

HISTÓRIAS DO MEU BAIRRO VELHO DAS FURNAS XXIII

OLHA LÁ OH ZÉ. A “BICHA” JÁ ALIVIOU A TRIPA?
FAZIA-ME JEITO UM POUCO DE ESTRUME PARA ESPALHAR
NA TERRA ONDE TENHO AS FLORES!



…A carroça do “pitrolino” que percorria o velho bairro, nas quintas-feiras passava à minha porta. Este era o dia da semana que, permitia à D. Georgina, minha mãe, e não só, adquirir um ou mais dos artigos que vendia…
…Gostava de ver aquela bonita égua, com a cor do pelo em tons cinzentos e brancos…
…Na memória ainda relembro a “Maria Alice”, já cansada, a subir a pequena ladeira da Rua das Tílias, ao encontro da cocheira…



Esta linda égua, quando pelas pessoas passava, levantava ligeiramente o focinho parecendo procurar uma mão caridosa que lhe fizesse um afago.
Anda “Mª Alice”! Dizia, um dos irmãos “pitrolinos”, depois de aviar a freguesia que, se abeirava à carroça.
De seguida, em nova partida, com um sopro, um deles tocava a pequena corneta de cor amarela, dependurada no pescoço por uma corrente.



“Maria Alice” era o nome da égua do “pitrolino”!
Passava pelas tardes, sempre, na minha rua a puxar a carroça cheia de infusas, caixas e garrafões, contendo diversos artigos líquidos e sólidos que, os seus donos comercializavam pelas ruas da zona de Palma e, pelos bairros circundantes.
O armazém destes vendedores de porta a porta, estava situado no Largo, onde também estava (está) a sede do Sport Futebol Palmense.



Para os habituais circuitos diários, a “Maria Alice”, saía cedo. Obediente, lá andava, vaidosa, ostentando os seus fortes membros e, a crina comprida e bem penteada. A enfeitar o pescoço a guizeira. A amiúde a sacudia, fazendo tilintar, não só os guizos, como também e um pequeno sino de bronze, já negro pelo tempo.
Se a memória não me falha, eram 2 as vezes que a carroça do “pitrolino” visitava o meu velho bairro. Nas quintas-feiras, pelas tardes, passava na frente da minha casa. Era o dia da semana que, permitia à D. Georgina, minha mãe e, não só, adquirir um ou mais artigos - petróleo, álcool (azul), azeite, vinagre, aguardente, barras de sabão azul e branco e o amarelo, etc., - que então vendiam por porta a porta.



Como eu gostava de ver aquela bonita égua, com a cor do pelo em tons cinzentos e brancos. Logo que ouvia o soar da corneta no princípio da rua, deixava o que porventura estava a fazer, e esperava-a junto à cancela do meu quintal.
Sabia que a minha mãe iria, seguramente, fazer parar a carroça, para comprar um ou outro artigo, ou pagar algo ao “rol”. Era a oportunidade que tinha de lhe fazer festas e, pelas escondidas dar-lhe a comer uma folha das couves-galegas existentes no meu pequeno quintal.
Prendia-me nos olhares das mulheres, a verem medir, uma, o pedido do petróleo para o candeeiro ou para o fogão. Uma outra, segurando o funil e a garrafa do azeite, aguardando pela sua vez. Arrepiava-me quando via cortar, as barras de sabão (azul e amarelo) com um “facalhão” de meter medo.



Uma vez ouvi alguém dizer:
…Olha lá oh Zé. A “bicha” já aliviou a tripa? Fazia-me jeito um pouco de estrume para espalhar na terra onde tenho as flores…
De facto não havia reclamações quando a “Maria Alice” aliviava “as tripas” pelo chão. Depressa os excrementos eram apanhados, ainda quentes, por alguém e, aproveitados para estrumar as pequenas poções de terra dos quintais.
Ao contrário, acontecia com as “mijadelas” que, 2 baldes de água não chegavam para as lavar.
Que o diga a Fernanda Arsénio, pois rezava a todos os santinhos para que, a “Maria Alice”, não o fizesse à sua porta na Rua dos Choupos.



Os tempos são outros. Já não temos o “pitrolino” à porta. Pelo telefone ou pela NET, é possível encomendar o rol das necessidades de qualquer casa e, ser entregue por um qualquer carro da distribuição, de uma grande superfície comercial.
Mas na minha memória relembro, no fim das tardes, já por vezes no raiar das noites, a “Maria Alice” já cansada, puxada pelas rédeas em jeito de ajuda, a subir a pequena ladeira da Rua das Tílias, (hoje Rua Padre Carlos dos Santos).
Por fim, com a carga aliviada, lá ia com os seus donos, ao encontro da cocheira.

Foto Google

2 comentários:

José Justo disse...

...é rapaz que recordações!!!...gostei de ler e recordar...
Por acaso no meu bairro não havia a típica carroça do "Pitróilo" por que existiam três carvoeiros nas três ruas entrocadas nas escadinhas... e de vez em quando lá me tocava ir buscar o dito com uma vasilha de lata...
Velhos tempos, tão diferentes!!..e o pessoal não seria mais feliz??!!
Um grande abraço, e como sempre redação *****

MGomes disse...

Diz-se que as memórias são o alimento da alma! E na verdade cada vez mais,com o avançar da idade, essa inegável teoria tende a comandar grande parte do nosso presente!!!

O que seria de nós sem as lembranças e a capacidade de as "lermos" pausada e refletidamente à distância de quase uma vida???!!

São elas, boas e más, evidentemente, que nos fazem não perder a esperança!!! Ter memória é também, há que o reconhecer, podermo-nos revoltar perante um presente cada vez mais divorciado de valores e principios que para nós eram "sagrados" e que hoje vagueiam desnorteadamente na vida de tanta gente!!!

Não sei se dantes as pessoas não eram mais felizes, apesar das enormes dificuldades com que viviam! Mas que a vida era vivida de uma forma mais sã e fraterna, penso não ter muitas dúvidas!

Um Abraço!