(As minhas brincadeiras)
As ruas do meu bairro eram limpas logo pela manhã cedo, com alguns buracos é certo, mas o lixo não se via espalhado. O caixote do lixo era despejado no carrinho do “almeida”, quando na passagem pelas portas, caso contrário teria que ser entregue no depósito no final da Rua dos Choupos, junto à casa/arrecadação dos cantoneiros. Meu pai era um deles. “O escrivão da pena comprida”, como lhe chamava a minha adorada mãe.
Também não haviam “monos” amontoados. Quando alguém entendia ver-se livre de algo velho ou muito usado, não ia para o lixo, esperava pelo “ferro-velho” e fazia negócio.
Dizia a minha mãe…. “Dá-me jeito, vender umas garrafas de vidro”.
Como eu me lembro do pregão…”Ferro velho à porta…quem tem frascos ou garrafas para vender”…A vida era muito diferente.
O carro para transporte do lixo com que o meu pai trabalhava, para mim era uma tentação! Na oportunidade sempre que o via sem os contentores, não era difícil ver o Raul, com ele às voltas no estendal comunitário que existia no fundo da rua, logo “sacudido” com uma peça de roupa molhada e enrolada, que uma vizinha mais enervada, me atirava com o receio de lhe sujar a roupa estendida ao sol a secar.
Também as minhas brincadeiras …versos vizinhas…, com os “carrinhos de esferas” que eu próprio construía, por vezes eram muito dificultadas.
Empurrado por outros miúdos, o barulho das rodas no solo era ensurdecedor. Às vezes as vizinhas, irritadas, faziam queixa à minha mãe, que retorquia justificando…”O que é que queres que o miúdo faça? Ele tem que brincar!”...Mas era certo que o carro ficava confiscado por dois ou três dias, até que o “azedume” das vizinhas passasse.
Contudo alternativas não me faltavam, ou eram com as corridas de arco com gancheta (que também fazia barulho, mas menos), jogar ao abafar com bilas (berlindes), ou com as caricas das garrafas ou ainda a atirar o pião. Mas eram as “máquinas” que me encantavam.
Um dia, por ocasião do alcatroamento das ruas, diante o deslumbramento de queremos ver a funcionar o cilindro (qual monstro de máquina), pela hora do almoço, quatro ou cinco miúdos saltaram para a “locomotiva”, que estava estacionada por detrás da praça e na sua direcção.
Alguém, ainda hoje não sei quem, pôs o cilindro a trabalhar, seguindo-se, assustados, várias tentativas para o fazer parar mas sem êxito. Atento à brincadeira valeu-nos um operário que por perto almoçava, senão o pavilhão que sustentava a praça, a padaria e o talho, “já era”, com outras consequências imprevisíveis.
Traquina, igual a muitos outros putos do meu bairro, a brincadeira não ficava por aqui. O fiscal Costa sofreu com algumas “chatices”. Ele nunca soube quem partiu, à fisgada, as canecas de loiça branca que enrolavam, no poste de madeira, os fios do telefone do seu gabinete.
Na maior partes das vezes, não conseguiu cobrar o prejuízo das chapas de lusalite partidas, resultante das traquinices da miudagem. Ou ainda no encontrar dos culpados por “chincharem” uma ou outra peça de fruta, “que aguçava o apetite”, numa arvore de um qualquer quintal.
Recordo ainda, sentado nas escadarias que davam acesso à igreja, estar a fumar uma “beatinha” escondida pelas pernas, encanto assistia aos “recitais” do Alfredo, que começava a desenvolver o saber do tocar harmónicas. (Mais tarde, já homem, com o seu irmão, abrilhantou vários espectáculos, inclusive televisivos). Esta atitude, a de fumar, foi uma vez descoberta, nas traseiras da igreja, por meu pai. O estalo foi de tal forma, que a beata ficou colada à minha cara e meses marcada a queimadela.
Notas:
1-A foto acima é a Rua dos Choupos, retirada do livro “O Nosso Bairro Das Furnas” e editado pela Associação dos Moradores.
2-A foto do cantoneiro foi retirada da NET e tem a montagem da imagem do meu pai.
3-O carro de rolamentos é da criação do meu neto, modelo apresentado na escola quando na idade de 14 anos.
4-A foto do cilindro é retirada da NET imagens Google
As ruas do meu bairro eram limpas logo pela manhã cedo, com alguns buracos é certo, mas o lixo não se via espalhado. O caixote do lixo era despejado no carrinho do “almeida”, quando na passagem pelas portas, caso contrário teria que ser entregue no depósito no final da Rua dos Choupos, junto à casa/arrecadação dos cantoneiros. Meu pai era um deles. “O escrivão da pena comprida”, como lhe chamava a minha adorada mãe.
Também não haviam “monos” amontoados. Quando alguém entendia ver-se livre de algo velho ou muito usado, não ia para o lixo, esperava pelo “ferro-velho” e fazia negócio.
Dizia a minha mãe…. “Dá-me jeito, vender umas garrafas de vidro”.
Como eu me lembro do pregão…”Ferro velho à porta…quem tem frascos ou garrafas para vender”…A vida era muito diferente.
O carro para transporte do lixo com que o meu pai trabalhava, para mim era uma tentação! Na oportunidade sempre que o via sem os contentores, não era difícil ver o Raul, com ele às voltas no estendal comunitário que existia no fundo da rua, logo “sacudido” com uma peça de roupa molhada e enrolada, que uma vizinha mais enervada, me atirava com o receio de lhe sujar a roupa estendida ao sol a secar.
Também as minhas brincadeiras …versos vizinhas…, com os “carrinhos de esferas” que eu próprio construía, por vezes eram muito dificultadas.
Empurrado por outros miúdos, o barulho das rodas no solo era ensurdecedor. Às vezes as vizinhas, irritadas, faziam queixa à minha mãe, que retorquia justificando…”O que é que queres que o miúdo faça? Ele tem que brincar!”...Mas era certo que o carro ficava confiscado por dois ou três dias, até que o “azedume” das vizinhas passasse.
Contudo alternativas não me faltavam, ou eram com as corridas de arco com gancheta (que também fazia barulho, mas menos), jogar ao abafar com bilas (berlindes), ou com as caricas das garrafas ou ainda a atirar o pião. Mas eram as “máquinas” que me encantavam.
Um dia, por ocasião do alcatroamento das ruas, diante o deslumbramento de queremos ver a funcionar o cilindro (qual monstro de máquina), pela hora do almoço, quatro ou cinco miúdos saltaram para a “locomotiva”, que estava estacionada por detrás da praça e na sua direcção.
Alguém, ainda hoje não sei quem, pôs o cilindro a trabalhar, seguindo-se, assustados, várias tentativas para o fazer parar mas sem êxito. Atento à brincadeira valeu-nos um operário que por perto almoçava, senão o pavilhão que sustentava a praça, a padaria e o talho, “já era”, com outras consequências imprevisíveis.
Traquina, igual a muitos outros putos do meu bairro, a brincadeira não ficava por aqui. O fiscal Costa sofreu com algumas “chatices”. Ele nunca soube quem partiu, à fisgada, as canecas de loiça branca que enrolavam, no poste de madeira, os fios do telefone do seu gabinete.
Na maior partes das vezes, não conseguiu cobrar o prejuízo das chapas de lusalite partidas, resultante das traquinices da miudagem. Ou ainda no encontrar dos culpados por “chincharem” uma ou outra peça de fruta, “que aguçava o apetite”, numa arvore de um qualquer quintal.
Recordo ainda, sentado nas escadarias que davam acesso à igreja, estar a fumar uma “beatinha” escondida pelas pernas, encanto assistia aos “recitais” do Alfredo, que começava a desenvolver o saber do tocar harmónicas. (Mais tarde, já homem, com o seu irmão, abrilhantou vários espectáculos, inclusive televisivos). Esta atitude, a de fumar, foi uma vez descoberta, nas traseiras da igreja, por meu pai. O estalo foi de tal forma, que a beata ficou colada à minha cara e meses marcada a queimadela.
Notas:
1-A foto acima é a Rua dos Choupos, retirada do livro “O Nosso Bairro Das Furnas” e editado pela Associação dos Moradores.
2-A foto do cantoneiro foi retirada da NET e tem a montagem da imagem do meu pai.
3-O carro de rolamentos é da criação do meu neto, modelo apresentado na escola quando na idade de 14 anos.
4-A foto do cilindro é retirada da NET imagens Google
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