sábado, 1 de novembro de 2008

A LARA E A FESTA DOS DOIS ANINHOS

Em 24 de Outubro de 2008, pelas 21 horas, as brincadeiras já estavam muito animadas quando eu e as avós, Emília e Adelaide (esta última já bisavó), chegamos à festa dos 2 aninhos da minha neta mais nova – a Lara Sofia.

Os convidados, miúdos e as miúdas, não se cansavam de divertirem-se a correr e a saltar, não só pelo corredor, como no quarto da aniversariante. Aqui, era o delírio perante a oportunidade de brincarem, sem restrições, com os brinquedos da minha neta.

Deu muito prazer apreciar a alegria desta gente bem pequena, e a satisfação, por isso, dos seus pais, ao vê-los felizes nas suas brincadeiras.

A Catarina, minha filha, e o Miguel, meu genro, pais da Lara Sofia, estavam babados, vaidosos de felicidade.

A casa estava bem ornamentada, com balões, que um ou outro acabaria por rebentar pela força do calor e por estarem muitos cheios, originando grande animação provocada pelo susto e saltos de satisfação da pequenada.

A mesa estava bem composta, rebuçados, gelatinas, chocolates, pudins, sumos e outras coisas boas para contentamento da gente miúda.

Os petiscos destas ocasiões para os progenitores da “passarada” e familiares mais directos: Avó paterna, (pena foi que o avô paterno na ocasião estava em convalescença hospitalar) tios, tias, primos, primas, e outros convidados e convidadas que de perto a vêm crescer, também não faltaram.

Então, para mim, veio a surpresa da noite e da festa. Perante o olhar dos mais crescidos, na sala, animada pelas canções infantis, alguns pais, dançavam com os filhotes, quando para meu espanto, admiração e alegria, a minha neta, a aniversariante, de braços estendidos e a bambolear, me veio buscar para dançar o “Atchim Santinho” do Avô Cantigas: Convite que jamais podia recusar.

…Apanhou chuvinha
…O fantasminha está todo molhado
…Oh pobre fantasminha
…Ficou constipado

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O SR MELRO VAI VOLTAR A CANTAR NO MEU JARDIM



Estimado Raul Pica Sinos

Agradeço a tua mensagem relacionada com alguns problemas que identificas nos Espaços Verdes da Quinta da Mata e na envolvente.

A Câmara e a Junta de Freguesia fizeram, em conjunto, um esforço para melhorar aquele espaço, mesmo sem estar previsto no orçamento municipal de 2008, tendo em atenção o estado de degradação do local e os problemas causados aos moradores por aquela espécie de árvores.

Fizemos o que nos foi possível e creio que, apesar de tudo, está bem melhor. Desloquei-me ao local na semana passada com técnicos e com o Presidente da Junta de Freguesia e decidimos que a Junta vai instalar um aparelho para skate e procurar rectificar o piso nos pontos com mais problemas. Mandei efectuar a limpeza do local, incluindo toda a extensão da vala que, ao que me dizem, já foi efectuada, e aguardamos o desenvolvimento do estado de apodrecimento das raízes das árvores abatidas para as retirar, tentando danificar-se o mínimo possível o pavimento.

Vamos continuar a assegurar a limpeza periódica do local e tentar garantir a melhor qualidade ambiental possível aos nossos munícipes.

Um abraço

Com os meus melhores cumprimentos

Carlos Mateus
Vereador do Pelouro do Ambiente e Serviços Urbanos

domingo, 5 de outubro de 2008

O SR MELRO JÁ NÃO CANTA NO MEU JARDIM

Em Corroios, no jardim que circunda o prédio onde moro, bem cedo, ao raiar o sol nas manhas, acompanho a KiKa e Tucha, rafeiras pois claro, nas correrias e nos xixis matinais.

Este “meu” jardim recebeu, recentemente, melhoramentos há anos esperados. A relva queimada pelo sol e por falta de água, foi substituída por novos tapetes, colocadas plantas estilo piteiras, de folha larga, em pequenas elevações que não existiam.

As árvores já com algumas décadas, que albergavam a passarada, foram cortadas, respondendo ao protesto da vizinhança pelas alergias que lhes causavam o pólen. Em sua substituição foram colocadas muitas mais, cuja beleza e sombra levará anos a ser realidade.

Os buracos do pavimento foram tapados com lajes cinzentas, tipo tijolo, em contraste com outras do mesmo tipo e tamanho, mas estilo “tutifruti”, restos, digo eu, de materiais sobras de outros empedramentos, cujo nivelamento deixa muito a desejar.

Bom dia Srº. Melro

…Olá vizinho, tão cedo já no jardim?...

Sim, vim passear as minhas amigas cadelas.
O Sr. Melro com as patas nessa cova de água ainda se constipa!

...Olhe, vizinho, tinha sede, acabei de comer uma minhoca e para a ingerir bebi um pouco de água.

Não vejo a sua esposa?

…Pois não, ficou no jardim junto à praça, agora moramos lá, as arvores aqui foram cortadas!…

Pois, Srº Melro, o jardim recebeu melhoramentos!

…Melhoramentos? Não sei vizinho, o meu ninho e os da minha família foram destruídos, os pesticidas colocados na relva mataram as minhocas e quando as como mortas fazem-me “diarreia”, os habitats dos meus “primos” foram destruídos.

Mas, Srº Melro!

…Qual mas vizinho, já deu conta da vala toda suja? Deu conta das poças de água estagnada pela má direcção das regas? Já viu que arranjaram o jardim mas nada fizeram para recreio da pequenada? Já viu a falta de bancos e as alternativas encontradas? Já viu vizinho? Não vizinho, com muita pena minha não me vai ouvir cantar, nem à família, por aqui nos tempos mais próximos….

Mas, Srº Melro, isso não é justo!

…Fale com o Presidente da Junta, ele que emende o que de mal foi feito e prometo que voltarei para me ouvir cantar. Tenha um bom dia vizinho!...

Srº. Vereador do Ambiente da C.M.S e Sr. Presidente da Junta da Freguesia de Corroios
Exmºs. Senhores,

Depois de observar uma conversa com o Sr. Melro venho por este meio expor o seguinte:

domingo, 28 de setembro de 2008

EM PORTUGAL, AS MULHERES SÃO AS PRINCIPAIS VITIMAS DA DESCRIMINAÇÃO SALARIAL

O economista, especialista em Segurança Social e Trabalho, Dr. Eugénio Rosa, deu nota ao país do estudo que efectuou sobre a discriminação salarial a que continuam sujeitas as mulheres em Portugal, onde, pela sua importância, com a divina vénia ao autor, faço extractos procurando não o desprestigiar dos objectivos.

O feitor do citado estudo, utilizando apenas dados oficiais dos quadros de pessoal das empresas, divulgados pelo próprio governo (Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social), adianta que as mulheres pelo facto de o serem, são uma fonte acrescida da exploração das entidades patronais e que os lucros, resultantes da discriminação, deverão atingir em 2008 cerca de 6.068 milhões de euros.

Os dados estatísticos:

A discriminação remuneratória a que a mulher está sujeita, comparativamente aos homens com o mesmo nível de escolaridade:

1995 - Inferior ao 1º ciclo do ensino básico, menos 19%
1995 - Ensino superior entre, menos 28,5% e menos 40%
2006 - Inferior ao 1º ciclo do ensino básico, menos 19,1%
2006 - Ensino superior entre, menos 31,8% e menos 34,4%

A discriminação remuneratória a que a mulher está sujeita, comparativamente aos homens segundo a sua qualificação profissional, que em 2006 se agravou:

1995 - Quadros superiores, menos 24.8%
1995 - Praticantes e aprendizes, menos 7.8%
2006 - Quadros superiores, menos 29.7%
2006 - Praticantes e aprendizes, menos 7.9%

A descriminação remuneratória a que a mulher está sujeita, comparativamente aos homens a nível de sectores de actividade, atingindo, em alguns deles, valores chocantes:

1995 - Industria Transformadora, menos 32,6%
1995 - Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais, menos 46,5%
2006 - Industria Transformadora, menos 31,9%.
2006 - Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais, menos 42%.


Comparativamente com 28 países da Europa, segundo publicação “Eurofound”, Portugal é o país onde a discriminação de remunerações com base no género é maior (em Portugal, a remuneração média das mulheres é inferior, à dos homens, em 25,4%), sendo apenas ultrapassado pela Eslováquia. Mas isto é um valor médio. Se se fizer uma análise mais fina por nível de escolaridade, por qualificação profissional e por sector de actividade utilizando dados divulgados pelo próprio governo (Ministério do Trabalho e Solidariedade Social) conclui-se que a discriminação é muito maior.

Imagem: Google, cujo autor não consegui identificar

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

ÉRAMOS MUITOS NA MINHA "VIAGEM" PARA A GUINÉ

No dia 7 de Abril de 1967, no Aquartelamento de Artilharia Costa na Parede (Cascais), um dia antes do embarque das tropas, no objectivo de intervir na guerra na colonial, na província da Guiné-Bissau, teve lugar a formação e a entrega do guião ao Batalhão de Artilharia 1914, composto por 3 Companhias Operacionais e 1 de Comando e Serviços.

Antes, entre centenas de homens, avisto aqui e além uma cara já conhecida, camaradas da especialidade e outros companheiros oriundos da minha cidade natal, Lisboa.

É-me indicado o Sargento, a quem me apresento, que diz … ”onde andou rapaz?” …“não fez a instrução de aperfeiçoamento operacional (IAO)”…, …”devia cá estar há um mês!”…concluiu. Pergunte no Quartel-general! Foi a minha resposta. Depois, de assistir às cerimónias da praxe, foi arrumar na bagagem o camuflado distribuído e sair para jantar.

8 de Abril de 1967, cais de Alcântara em Lisboa, despeço-me da família que me acompanhou ao embarque, segue-se a formatura, um emproado oficial superior e sua comitiva fazem a revista às tropas, o embarque sucede. Ao som da fanfarra militar e do acenar dos lenços, o paquete Uíge larga as amarras.

Este parte, Aquele parte, E todos, Todos se vão.
Oh terra ficas sem homens, que possam cortar o pão.

A situação da despedida atormenta-me, não é fácil ver todo o aparato de tristeza que me rodeia. A Torre de Belém fica para trás, a ponte sobre o Tejo já não se vê, a terra é coisa sumida, os olhos há muito que estão rasos de água.

Tive a sorte de não ser colocado nos lugares do navio que outrora eram destinados às cargas. O meu camarote suporta oito beliches duplos. Não tenho preferência da cama, uma qualquer serve para descansar. As refeições são tomadas em refeitórios outrora salas de jantar para passageiros em terceira classe. Os lugares destinados às outras praças, os porões, (ao contrário dos oficiais e dos sargentos que seguiam em primeira e segunda classes respectivamente), são degradantes. Colocadas ao comprimento dos porões estão mesas em madeira, com lotação para uma vintena de militares, os beliches também em madeira, acompanha os porões em altura. Os vomitados do enjoo são constantes, a limpeza precária, que em conjunto com a falta do banho diário o cheiro é nauseante, asfixiante, o barulho dos motores, etc., o ambiente é insuportável.

Durante os oito dias (mais três que o normal por avaria num dos motores) que a viagem durou, foi neste contexto que os jovens militares faziam a vida no navio. Inconformados com o destino, no convés, uns passeiam, outros conversam e ainda outros jogam ou vêem jogar às cartas. Uma ou duas vezes fizemos exercícios de salvamento em caso de naufrágio. Os peixes voadores que quase sempre acompanharam o barco eram também motivo de entretenimento. Finalmente a 14 do mesmo mês, chegados ao destino para o qual fomos obrigatoriamente mobilizados. O pior estava para vir……a guerra.

Já noite com os demais camaradas d’armas cheguei a Tite, um dos principais aglomerados populacionais, no mato, ao sul desta província ultramarina, na região de Quinará, distando em linha recta, cerca de 30 quilómetros da capital, Bissau. Ou seja, Tite foi a localidade que em Janeiro de 1963, Amílcar Cabral fundador do PAIGC principia as acções de guerrilha contra as tropas portuguesas.

Com o passar do tempo apercebo-me mais do que me envolve na região. O Povo, seus usos e costumes, a grande variedade de espécies vegetal e animal. As chuvas, ao contrário no “continente”, começam em Maio, aumentando gradualmente até Agosto. Os relâmpagos, as trovadas em simultâneo, o pôr do sol lindíssimo, o cheiro, a terra vermelha, as arvores muitas delas centenárias, as aves, os repteis, os pombos verdes, as formigas d’asa, os incómodos mosquitos, etc. tudo tem a sua beleza, mas diferente do que estava habituado. No entanto nada disto faz esquecer a vida de Lisboa.

A 19 de Julho de 1967 assisto ao primeiro grande susto da minha vida, o inimigo equipado com canhões s/recuo e morteiros 82, durante cerca de uma hora flagela o aquartelamento, registando as NT no final da refrega apenas 3 feridos. As consequências materiais são de elevado prejuízo.

Os dias sucedem-se e a actividade operacional das NT desenvolve-se em terrenos que são adversos; cotas bastantes baixas, em grandes áreas alagadiças, não só na época das chuvas como em resultado das marés. O IN actua com grande mobilidade, conhece o terreno com pormenor. Está organizado militar, política e administrativamente em largas zonas territoriais. Com o apoio das populações, é forte, aguerrido e dispõe de um potencial de meios igual se não superior ás NT, só desequilibrado graças à actuação da Força Aérea.

No dia-a-dia, passo o tempo, com os demais, em constantes incertezas de vida. Só aliviadas pelas tertúlias organizadas entre a rapaziada, repastos acompanhadas de muita cerveja, quase sempre compostos pelas mercadorias que nos chegam dos familiares. Aqui e dali também me chegam notícias, uma delas bem marcante; a sorte de 500 habitantes da área de Lisboa que morreram em resultado das cheias que assolaram a cidade em Novembro deste mesmo ano.

Fotos:
Arquivo do Zé Justo
Google/Didinho
Poema:
Adriano Correia de Oliveira

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

AS MUDANÇAS NA ADOLESCÊNCIA (III)

NO FIM DA ADOLESCÊNCIA PRONTO PARA A GUERRA
Com a recruta concluída, colocado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, na cidade de Leiria, é-me ministrada a especialidade de escriturário.

Para fazer face às despesas com as viagens nos fins-de-semana a Lisboa, organizo excursões cujo lucro era o preço do trajecto na ida e volta. Na segunda-feira seguinte, no regresso ao quartel, comigo transportava o avio da família; um naco de queijo, chouriço e umas latas de conserva: com sardinhas, com atum ou com pasta de carne, que a D. Georgina, minha mãe, não se esquecia, servindo de reforço às más refeições que era sujeito no aquartelamento.
A muito custo, com o apoio do serviço social do bairro onde morava, o Bairro da Quinta das Furnas, meu pai é pela segunda vez internado na Casa de Saúde do Telhal.
A família não teve outra alternativa. A preocupação com a evolução da doença é muita, a situação complicava-se nos dias que sucediam. Minha mãe, praticamente sozinha, enfrentava toda a problemática da loucura que assolava o meu pai já “queimado” pelo o abuso álcool.
Quando em 16 de Setembro, já inaugurada a Ponte que liga Lisboa a Almada (Ponte Salazar, mais tarde 25 de Abril), sou colocado no Batalhão de Reconhecimento de Transmissões, na Trafaria (já desactivado), para tirar a especialidade de Cripto (especialidade esta que ainda hoje consiste na aplicação das técnicas que visam a transformação da escrita legível para ilegível, manual ou em termos mecânicos), as coisas começaram a serem melhores. Podia ver com mais frequência a “miúda” e os meus amigos, na medida em que só ficava no quartel quando em serviço.

Aquele pequeno barco de madeira, que partia às 07,30 horas de Belém rumo à Trafaria, como era bonito de ver o “rasgar” das águas e o resplendor das madrugadas. Como era bonito ver o nevoeiro “rastejar” naquelas águas limpas do meu rio Tejo.

Claro alguns de nós, depois da noite “agitada”, fazia a viagem a dormir. O dinheiro para pagamento da viagem era trocado pelo bilhete e colocado na boina que tapava a cara.
Dado com pronto e colocado no Quartel-general (QG) da Região Militar, em Lisboa, em de Março de 1967, entre três cabos e dois sargentos, das muitas mensagens decifradas, quis o destino que fosse eu a decifrar as mensagens: uma, que ditava a minha mobilização para a Guiné e outra, dando nota da morte de dois soldados, por acidente de arma de fogo, no estágio das manobras do aperfeiçoamento militar da Companhia de Comandos e Serviços do Bart 1914, que viria a integrar.
Não me apanhou de surpresa a mobilização! A situação era mais que previsível para os jovens militares da minha idade. Na verdade, sendo a incorporação militar obrigatória, só não eram mobilizados para a guerra os jovens incapacitados fisicamente.
Já com o “carimbo” de mobilizado, após um curto período de férias com os meus mais chegados, despeço-me do meu pai com um abraço e um beijo, sabendo ambos que já não tínhamos a oportunidade de nos tornarmos a abraçar.

Com a devina vénia
Imagem Google – Os que viveram e vivem em Almada

domingo, 21 de setembro de 2008

AS MUDANÇAS NA ADOLESCÊNCIA (II)

MANCEBO NA RECRUTA MILITAR
Os meus sentimentos e inquietações mudaram, quando aos 18 anos de idade, dou obrigatoriamente o nome para o serviço militar.

É exactamente no ano de 1963, que a guerra colonial se intensifica. Em Setembro, começa a guerrilha do PAIGC, na Guiné, de forma sistemática, enquanto o MPLA abre a segunda frente de guerra, em Angola, no enclave de Cabinda.

Com grande aparato realizam-se pela primeira vez cerimónias militares no Terreiro do Paço, por ocasião do Dia de Portugal, onde se condecoram militares vivos e a título póstumo, em resultado das acções na guerra colonial.

Em 1964, com a reorganização do MPLA e da FRELIMO, a guerra passará a ter uma fase mais agravada em Angola e Moçambique.

Todos estes acontecimentos, entre outros, começam a originar dúvidas e medos na minha pessoa. Os amigos que comigo conviviam, no Café Ferro d’Engomar, ao Calhariz de Benfica, são levados a pensar na imigração para um qualquer país da Europa a exemplo do que faziam muitas famílias que fugiam à miséria, de um país que lhes negava a felicidade. Muitos jovens, inclusive com o assentimento dos pais, exilavam-se para fugir a participação na guerra colonial cada vez mais amplificada.


Mas, comigo, não era fácil concretizar esta opção. A imigração clandestina, que milhares de portugueses escolhiam maioritariamente os países europeus mais desenvolvidos: a França em primeiro lugar, mas também a Alemanha (RFA), a Suíça e o Reino Unido, inclusivamente, o pequeno Luxemburgo, não tinha a vida facilitada: viviam em barracas, não falavam a língua do país de acolhimento nem possuíam qualificações profissionais. Dispunham apenas da sua força de trabalho, que era empregue nas fainas mais pesadas, na construção e obras públicas ou no saneamento e higiene urbana. Para os refractários e desertores da vida militar, tinham que estar sujeitos ao estatuto de refugiados políticos, não podiam pensar em regressar ao seu país de origem, pois seriam presos com a “classificação” de traidores à Pátria.

Deixar a minha mãe sozinha a braços com a doença do meu pai, a “miúda”, e o facto de não saber quando voltava a este país á beira mar plantado, optei pelo mais “fácil”, ou seja, sujeitar-me a ser mobilizado para uma guerra, que maioritariamente os portugueses já condenavam, entrando nas fileiras, como recruta, a 2 de Maio de 1966, no quartel (C.T.S.C.) situado na Serra da Carregueira (Sintra).

Aqui, desde inicio a disciplina imposta era muito rígida. Não havia facilidades para ninguém. As marchas de quilómetros, o rebolar pelas silvas e por terrenos acidentados propositadamente escolhidos, não me afectava grandemente. A prática, durante cerca de um ano, das modalidades desportivas – luta greco-romana – no Ginásio Clube Português e mais tarde Rugby no Sport Lisboa e Benfica – permitiu-me enfrentar sem grandes dificuldades a “radicalidade” da instrução militar. Os ombros, esses sim, tinham que suportar as dores originadas pelo “coice” ocasionado pelo disparo da espingarda mauser. Também me incomodava seriamente acordar de madrugada, quando menos previa para fazer exercícios militar. Três meses de esforço praticamente inútil, confirmando mais tarde quanto desajustado à guerra de guerrilha em África.

domingo, 14 de setembro de 2008

O MEU BAIRRO DAS FURNAS - IV

AS PRINCIPAIS VISITAS DA MINHA CASA
Quem me desculpem os seus familiares mais directos, mas não fazia qualquer sentido, contar histórias do meu Bairro das Furnas e não referir as principais visitas da minha casa, e principais amigas da minha mãe.
Companheiras de confidências, brincadeiras e passeios.

A Ilda dos "óculos" com o seu filho Manel.

A Carolina, com a minha mãe ao seu lado direito, num passeio que fizeram a Fátima em Setembro de 1967.

A Esperança, senhora que muitos dos seus dias trocou a sua habitação no Calhau, para morar em minha casa.
Grande amiga de minha mãe. Foram inúmeras as vezes que a vi a passar a ferro, os montes de roupa que a D. Georgina lavava pertença do Laboratório de Analises Clínicas.
Mas também desejo escrever sobre o Manel.
Este meu amigo de muitas brincadeiras na idade escolar, enquanto miúdos, cegou aos 12 anos. Mora para os lados de Carnaxide.
Foram muitos os anos que não o vi, mas, uma das vezes que com ele me cruzei foi no Rossio em Lisboa.
De propósito coloquei-me na sua frente de modo a que chocasse comigo. Nada lhe disse. Quando verifiquei que ia mudar de direcção, novamente me coloquei à sua frente a barrar o caminho.
Já nada satisfeito, exclamou..."Então". Então digo eu. De imediato ele retorqui...És o Raul. Dei-lhe um forte abraço e ele segui o seu caminho.

sábado, 13 de setembro de 2008

AS MUDANÇAS NA ADOLESCÊNCIA (I)

A PUBERDADE
Acabada a instrução primária e já a trabalhar, agora com os 16 anos de idade, estou muito mais preocupado com a saúde do meu pai, do que para politica de repressão que o ditador Salazar sustenta no país, assim como das acções opositoras ao regime.


Lembro as palavras de minha mãe a alertar-me, de que não devia meter-me na política. Sobre politica não devia falar com quem quer que fosse. Dizia…“Olha filho… a PIDE prende-te!”.

Com efeito, no decorrer do ano de 1961, pela surdina comentava o que ouvia dizer na rádio.
Apercebia-me que era grande a agitação política e traumática para o regime Salazarista, mas ao contrário da família mais chegada, eu era “imberbe” nessas “coisas”, se bem que não fosse alheio:

…No mês de Fevereiro, com o objectivo de chamar a opinião pública mundial da politica ditatorial em Portugal -.o Governo sofre uma investida com grande impacte no país e a nível mundial - Henrique Galvão comanda, em pleno alto mar, o assalto ao paquete Santa Maria -.
…No mês de Março, o país toma conhecimento, que a UPA, com o apoio dos EUA (CIA, desencadeia no norte de Angola, um ataque às populações brancas e trabalhadores pretos naturais de outras regiões, resultando num massacre de milhares de pessoas.
…No mês de Abril, várias personalidades do regime, lideradas pelo ministro da defesa, Júlio Botelho Moniz, apoiadas pelo antigo presidente da república, Craveiro Lopes, através de um golpe palaciano, visam, sem êxito, afastar Salazar do Governo.
…A União Indiana invade os territórios de Goa, Damão e Diu.

Confesso que a actividade politica, não supera as minhas preocupações com os problemas em casa e na rua, derivados da doença de meu pai, por via do alcoolismo, e as dificuldades conducentes ao seu internamento hospitalar.
Estava também concentrado em procurar anular situações comportamentais muito complicadas, inclusive agressões físicas infligidas à minha mãe, do que na problemática politica que me rodeava.

Mas o meu estado de espírito “aliviava-se”, quando no Chiado, na Rua Nova do Almada, no final dos dias, junto ou na frente da porta do prédio dos grandes armazéns Eduardo Martins, encontrava a Mª Emília depois do trabalho.
Durante anos, de mãos dadas, o nosso caminho foi sempre o mesmo: Largo do Carmo, Calçada do Carmo, Estação dos comboios no Rossio e finalmente a Estação de S. Domingos de Benfica, zona onde a “miúda” morava.
Muitos dos sábados à noite, acompanhados pela sua mãe, éramos presença obrigatória nos bailaricos na Colectividade da Academia Grandela, ao Calhariz de Benfica. Aos domingos privilegiávamos os passeios pela linda mata de São Domingos de Benfica, junto aos Pupilos do Exército.
Mentiria se não referisse outro tipo de “preocupações”, sobretudo nas noites após a saída das aulas da Escola Veiga Beirão no Largo do Carmo, com uma ou a “visita” aos bairros típicos da cidade com destaque para o Bairro Alto. Mas………obviamente eu cresci, e para futuro nem sempre foi assim.
Fotos: Google

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O MEU BAIRRO DAS FURNAS - III

(As minhas brincadeiras)
As ruas do meu bairro eram limpas logo pela manhã cedo, com alguns buracos é certo, mas o lixo não se via espalhado. O caixote do lixo era despejado no carrinho do “almeida”, quando na passagem pelas portas, caso contrário teria que ser entregue no depósito no final da Rua dos Choupos, junto à casa/arrecadação dos cantoneiros. Meu pai era um deles. “O escrivão da pena comprida”, como lhe chamava a minha adorada mãe.

Também não haviam “monos” amontoados. Quando alguém entendia ver-se livre de algo velho ou muito usado, não ia para o lixo, esperava pelo “ferro-velho” e fazia negócio.

Dizia a minha mãe…. “Dá-me jeito, vender umas garrafas de vidro”.
Como eu me lembro do pregão…”Ferro velho à porta…quem tem frascos ou garrafas para vender”…A vida era muito diferente.

O carro para transporte do lixo com que o meu pai trabalhava, para mim era uma tentação! Na oportunidade sempre que o via sem os contentores, não era difícil ver o Raul, com ele às voltas no estendal comunitário que existia no fundo da rua, logo “sacudido” com uma peça de roupa molhada e enrolada, que uma vizinha mais enervada, me atirava com o receio de lhe sujar a roupa estendida ao sol a secar.

Também as minhas brincadeiras …versos vizinhas…, com os “carrinhos de esferas” que eu próprio construía, por vezes eram muito dificultadas.

Empurrado por outros miúdos, o barulho das rodas no solo era ensurdecedor. Às vezes as vizinhas, irritadas, faziam queixa à minha mãe, que retorquia justificando…”O que é que queres que o miúdo faça? Ele tem que brincar!”...Mas era certo que o carro ficava confiscado por dois ou três dias, até que o “azedume” das vizinhas passasse.

Contudo alternativas não me faltavam, ou eram com as corridas de arco com gancheta (que também fazia barulho, mas menos), jogar ao abafar com bilas (berlindes), ou com as caricas das garrafas ou ainda a atirar o pião. Mas eram as “máquinas” que me encantavam.

Um dia, por ocasião do alcatroamento das ruas, diante o deslumbramento de queremos ver a funcionar o cilindro (qual monstro de máquina), pela hora do almoço, quatro ou cinco miúdos saltaram para a “locomotiva”, que estava estacionada por detrás da praça e na sua direcção.

Alguém, ainda hoje não sei quem, pôs o cilindro a trabalhar, seguindo-se, assustados, várias tentativas para o fazer parar mas sem êxito. Atento à brincadeira valeu-nos um operário que por perto almoçava, senão o pavilhão que sustentava a praça, a padaria e o talho, “já era”, com outras consequências imprevisíveis.

Traquina, igual a muitos outros putos do meu bairro, a brincadeira não ficava por aqui. O fiscal Costa sofreu com algumas “chatices”. Ele nunca soube quem partiu, à fisgada, as canecas de loiça branca que enrolavam, no poste de madeira, os fios do telefone do seu gabinete.

Na maior partes das vezes, não conseguiu cobrar o prejuízo das chapas de lusalite partidas, resultante das traquinices da miudagem. Ou ainda no encontrar dos culpados por “chincharem” uma ou outra peça de fruta, “que aguçava o apetite”, numa arvore de um qualquer quintal.

Recordo ainda, sentado nas escadarias que davam acesso à igreja, estar a fumar uma “beatinha” escondida pelas pernas, encanto assistia aos “recitais” do Alfredo, que começava a desenvolver o saber do tocar harmónicas. (Mais tarde, já homem, com o seu irmão, abrilhantou vários espectáculos, inclusive televisivos). Esta atitude, a de fumar, foi uma vez descoberta, nas traseiras da igreja, por meu pai. O estalo foi de tal forma, que a beata ficou colada à minha cara e meses marcada a queimadela.

Notas:
1-A foto acima é a Rua dos Choupos, retirada do livro “O Nosso Bairro Das Furnas” e editado pela Associação dos Moradores.
2-A foto do cantoneiro foi retirada da NET e tem a montagem da imagem do meu pai.
3-O carro de rolamentos é da criação do meu neto, modelo apresentado na escola quando na idade de 14 anos.
4-A foto do cilindro é retirada da NET imagens Google

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O MEU BAIRRO DAS FURNAS - I

(A minha casa)
Em Dezembro de 1945, no Bairro Social da Quinta Boavista, na Freguesia de Benfica, nasce um indivíduo do sexo masculino, a quem deram o nome de Raul Ferreira Pica Sinos.

Dois anos mais tarde, com o meu pai de nome Adriano, (funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, com a profissão Cantoneiro) e demais família (mãe, irmã e cunhado), passei a residir, no Bairro Social da Quinta das Furnas, na Freguesia de São Domingos de Benfica, situado entre o Parque Florestal de Monsanto e o Jardim Zoológico, numa casa tipo três, no nº 14, da Rua dos Plátanos, e aí permanecendo (salvo o intervalo de 2 anos na guerra colonial) até à idade de 23 anos, idade com que casei.

Então, a morar no Calhariz de Benfica, frequentemente voltava às origens para visitava minha mãe a D. Georgina. E quando em Corroios/Seixal, passou a ser diária de manhã e á noite, tendo em conta que durante o dia, a minha mãe cuidou da sua neta Sofia, na idade escolar, e até concluir a instrução primária obviamente no bairro.

Este meu bairro inaugurado em Maio de 1946, responde com a sua edificação de cariz provisória ao programa no âmbito das “casas desmontáveis”, desenvolvido pelo município de Lisboa, na plena ascensão do Estado Novo. Está associado à filosofia da Lei da Casas Económicas de 1933 e, é concluído no início da década de 1950, com 280 fogos alojando cerca de 1.500 pessoas.

A construção deste e outros bairros de semblante social, visava responder, por um lado, à politica do ditador Salazar, para com habitação operária, problema que se arrastava desde finais do séc. XIX, e acudir à mísera situação dos habitantes dos bairros de lata que proliferavam pela cidade. Por outro lado, ao realojamento dos funcionários da edilidade que viviam em barracas e dos cidadãos despejados administrativamente por causa dos novos empreendimentos públicos.

A construção das casas do meu Bairro das Furnas, foi feita, no exterior com chapas de lusalite, sendo no interior forradas por uma pequena espessura de tabique (gesso). Os fogos eram de diversos tipos – T1, T2, T3 e T4 – procurando responder ao numero do aglomerado familiar. Havia luz eléctrica e água canalizada, casa de banho com lavatório, chuveiro e pia. Na sala da entrada, tinha junto um poial com “chaminé” a quem chamávamos de “cozinha”.

A renda da minha casa – T3 - tinha um custo mensal de 110$00, incluindo os gastos com a água e a electricidade cujo horário era o da iluminação pública. Tinha pela frente um pequeno quintal.


Era extremamente injusta a fama de “reputação duvidosa”, que a população mal esclarecida de Lisboa catalogava os habitantes do meu bairro. As pessoas com quem eu cresci, eram humildes, honradas e trabalhadoras. Viviam com estremas dificuldades, a fome batia a muitas portas, mas o que era dos outros, não era seu. Paradigma disso, as peças de roupa do laboratório de análises clínicas que a minha mãe lavava e estendia no lavadouro e estendal comunitário, pois, podiam estar dias a fio a secar que nem uma peça faltava. Pobres certamente, mas as suas portas não estavam trancadas nem fechadas à chave. O respeito pelo próximo era muito.


Bibliografia: Informação dispersa da CML, Fotos do livro “O Nosso Bairro” (Maria de Lurdes Pais Gomes), Editado pela Associação de Moradores Do Bairro das Furnas



quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O TRABALHO (III)

Na primavera do ano de 1961, todas as instalações, da Robbilac Portuguesa, existentes na Rua Nova do Carvalho, foram transferidas para o Conde Redondo, mais propriamente para a Rua Luciano Cordeiro. Creio que tal mudança deveu-se a razões de espaço físico, para lançamento e afirmação de novos produtos, desenvolvimento dos recursos humanos e das vendas.

Com 14 anos, este era agora o meu local de trabalho. Aqui, foram-me destinadas novas responsabilidades, que consistiam em percorrer, praticamente a pé, as freguesias da cidade de Lisboa (divididas com um colega de nome João Sequeira), a fim de detectar e recolher informações, junto dos empreiteiros com prédios ou andares em construção ou remodelação. Todas as obras (pequenas ou grandes) tinham que ser obrigatóriamente balizadas, no exterior com madeira, de forma a estar denunciada a empreitada, e disso, dava conhecimento aos vendedores no final do dia.

Quando a Câmara Municipal autorizou a consulta das licenças de obra, nos respectivos serviços do licenciamento, o meu trabalho no exterior acabou. Passei a ser responsável, por registar e debitar as encomendas, recebidas por telefone, do sector retalhista (drogarias), e ainda pelas existências e reposição das amostras (latas de 1/8 ou ¼ de litro) das diversas especialidades de tintas.

Dois anos depois, no meu bairro, lembro-me que “afinava” com alguns miúdos, porque ao cruzarem-se comigo, gozavam, cantando o anúncio que passava vezes sem conta na rádio…
E agora? Agora, bate chapas e tintas Robbilac…
Ou ainda…
Pinta, pinta, pinta com a tinta Robbiallac
Que é a tinta que mais pinta, que mais dura.
Quem não pinta com a tinta Robbiallac
Pinta, pinta para borrar sempre a pintura…

Estes anúncios estavam ligados à estratégia da propaganda da empresa. O refrão era cantado por Maria Pereira, fadista, contratada em exclusivo.

Maria Pereira também actuou nas principais cidades do país, em dezenas de espectáculos graciosos, para clientes ou potenciais clientes. Esta artista (que era a mulher de um dos Administradores), era também conhecida pelas suas actuações prolongadas. Em cada espectáculo nunca cantava menos de 30 ou 40 fados. Por isso, tornou-se costume ouvir-se, no meio fadista, daqueles que “abusavam” nas suas interpretações… Eh pá, estás armado em Maria Pereira…?

Recordo uma brincadeira motivada pelo meu deslumbramento espacial, e pelo sucesso do astronauta russo Yuri Gagarine…o primeiro homem no espaço numa órbita em torno da terra de 40 mil quilómetros, feita em 108 minutos.

Na época, fortemente entusiasmado pela corrida espacial entre os russos e americanos no objectivo de colocar o primeiro homem na lua, (feito que veio a acontecer pelos americanos no ano de 1969), chamo o meu colega, João Sequeira, e convido-o para fazermos um “foguetão”. A base espacial e rampa de lançamento seria na “casa das amostras”, dependência situada no mesmo andar onde trabalhávamos, ideia que teve a sua concordância.

O “foguetão” era nem mais nem menos, uma carga da esferográfica parker carregada com cabeças de fósforos, bem atacadas, colocadas em cima de uma pequena rampa, elevada a cerca de 30 graus e feita em madeira.

Mais à frente da rampa, a cinco metros de distância, um alvo pintado a preto. O feito era conseguir, com a explosão, que a cabeça da esferográfica, que segurava o “rolon”, fosse projectada contra o alvo, furando-o bem ao centro.

O dia do lançamento tinha que ser feito, numa altura em que a secção estivesse vazia de vendedores e o respectivo chefe (Dr. João Abel) ausente. Conseguida a oportunidade, deitamos mãos à “obra”, besuntámos a carga da esferográfica com verniz celuloso… e “fogo nele”.

Que desilusão, a única coisa conseguida, foi o susto às funcionárias administrativas (a Gaito e a Margarida) pelo estalar da detonação. Bem insistiram no…”que aconteceu?”...Por vergonha, nunca lhes contamos o nosso insucesso.

Já mais “espigado”, as brincadeiras com os colegas passaram a ser futebolísticas, aos sábados de tarde ou domingos de manhã, no Estádio Nacional, em Paços D’Arcos, ou no campo do Palmense, em Palma. Em horário pós laboral, no Ginásio Clube Português, na luta Greco-Romana, e já com 19 anos, no Estádio do Campo Grande, no rugby pelo Benfica.

Um ano depois ingresso nas fileiras militares, sou mobilizado para a guerra colonial na Guiné-Bissau, reocupando o meu lugar no emprego, dois anos depois, em Março de 1969.

domingo, 31 de agosto de 2008

O TRABALHO (II)

Em meados do ano de 1958, com 12 anos de idade, por “cunha”, entro para o quadro do pessoal efectivo da Robbialac Portuguesa, cujas instalações estavam situadas na Rua Nova do Carvalho, ao Cais de Sodré/São Paulo, em Lisboa.

A secção das vendas era no primeiro andar (hoje devoluto) do nº 11, assim como as restantes secções administrativas e de Direcção/Administração. Os armazéns, dois, estavam situados na mesma rua, um no nº 23 e o outro no nº 32.

Para além destes departamentos, no primeiro quarteirão da rua, também havia, antes e depois do arco, (que sustenta a Rua do Alecrim, mandado construir por Marquês de Pombal após terramoto de 1755), diversos bares de alterne (Texas, Filadélfia, entre outros), uma oficina de serralharia, que curiosamente tinha um cocheiro à porta (chamado Simões), que alugava carroças para transporte de mercadorias, um estabelecimento de vendas de acessórios para pesca (já fechado), para além de três ou quatro tascas.
Era na tasca (hoje restaurante) do nº 36 desta rua, que todos os dias almoçava, os “petiscos” feitos pela D. Georgina dos Santos, minha mãe. Aqui, para quem ocupasse as mesas, (não encomendando a comida ao tasqueiro), era obrigatório fazer despesa; no mínimo, meio litro de vinho. Os operários que me faziam companhia na mesa, estavam sempre “com o olho” no vinho que me sobrava, pois não bebia mais que um copito, vulgo de “2” (200 ml), o restante oferecia-lhes.
Para lá deste quarteirão também existiam outros estabelecimentos, sobretudo de vendas de confecção da empresa Rodrigues & Rodrigues. Creio que esta firma já não existe, mas o arco e os bares sim, na maior parte de diversão nocturna.

O meu trabalho era muito “duro”. Consistia em carregar latas de tinta, dos mais variados tamanhos e pesos, dos armazéns para o primeiro andar. Por vezes lá vinham umas gorjetas, quando as entregas dos produtos comprados eram feitas nos carros dos clientes, dando para pagar um ou outro maço de cigarros (para consumo semanal), com 10 unidades e de marca “Três Vintes”, e ainda para as “bicas” que tomava após os almoços, num dos bares de alterne, mas sempre acompanhado por colegas de trabalho mais velhos, e desde que não houvessem marinheiros dos barcos estrangeiros estacionados no Tejo…, caso contrário estava-me vedada a entrada.

Carregavam também as mercadorias, mais três camaradas: O Francisco, o Salgado e o Júlio. O Júlio Gomes era “doido” por toiros (mais tarde toureiro de renome internacional), fazendo sempre quando podia, (no armazém do nº 23, nas horas do descanso para o almoço) treino com o capote e muleta, que se desviava, elegantemente, dos cornos de uma vaca,(que um de nós pegava), quando investidos na sua direcção, sendo sempre animado, por fortes aplausos, pelos colegas trabalhadores de armazém, com destaque para o Sr. (s) Leite e Rio, chefe e subchefe do entreposto, que eram ferrenhos aficionados pela arte do toureio.

Como recordo, também, muitas outras brincadeiras, como foi o caso da gritaria e correria das mulheres das secções do cálculo e da contabilidade, por causa de uma ratazana, a quem o Fernando prendeu à cauda uma lata de um quarto de tinta vazia, com a inscrição de…“mais uma entrega Robbialac”… slogan à época muito em voga e inscrito nas viaturas da distribuição.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O TRABALHO (I)

No passado, o conceito do trabalho, na generalidade das famílias, era muito diferente do de hoje. As dificuldades da vida obrigavam a que os jovens, sobretudo das famílias mais humildes, fossem trabalhadores por conta doutrem muito cedo.

No meu caso ainda não tinha acabado a instrução primária, já os meus pais tinham feito compromissos para o meu emprego com um latoeiro/funileiro.Este primeiro estabelecimento para onde fui trabalhar, o do Sr. António Nabais, estava situado na Estrada de Benfica, junto à Cruz da Pedra, e consistindo o meu serviço, como aprendiz de funileiro, entre recados, actuar com um engenho, parecido ao picador de carne manual, mas em tamanho “Big Doble”, que permitia fazer cortes redondos em chapas zincadas, folhas de Flandres ou de alumínio, para substituição dos fundos das panelas, tachos, regadores, baldes, etc. que os fregueses entregavam para substituir. Mudados os carretos da máquina, permitia ainda fazer as dobras, engatar e comprimir as mesmas, ficando os utensílios prontos a serem de novo utilizados.

Foi de pouca duração a prestação do meu trabalho nesta oficina de latoaria, porque, passados três ou quatro meses, detectei que o Sr. Nabais, para testar a minha honorabilidade, colocou no chão, uma nota de 20 escudos, simulando que a tinha deixado cair inadvertidamente, situação que me chocou grandemente.

Quando a situação se repetiu em outra ocasião, nessa mesma tarde, já não fui trabalhar, não antes de minha mãe se importunar com o Sr. Nabais e de lhe dizer que o meu filho era de família pobre, mas sabia, tal como a sua família, respeitar e honrar o nome dos Pica Sinos.

A minha segunda ocupação foi na oficina do Sr. Américo Santos, também na Cruz da Pedra, que construía, através de moldes, trabalhos em torno mecânico, fundamentalmente salvas, baixelas, taças e outras peças decorativas e, cromadas posteriormente. Arear/polir estas peças, era o meu trabalho. Artefactos feitos em chapa de latão e cobre, cromados por processo de imersão de banhos electrólitos, num tanque existente no quintal. O meu salário era 7$50 por semana (em euros cerca de 3.5 cêntimos).

Recordo uma vez, que fui a Campolide buscar umas calças ao alfaiate do Sr. Américo Santos. Quando no balcão, aparece um indivíduo que me pareceu um “miúdo” a quem logo digo…"chama lá o teu patrão"….Este, responde com voz grossa…"Diz lá o que queres"…Até estremeci! Era um anão. Fiquei tão encavacado que me esqueci de pagar ao homem. Sabia o que era um anão mas nunca tinha visto um assim de perto.


Foto: No Bº das Furnas, na rua onde morava, eu e a minha mãe depois de um dia
de trabalho na oficina do Sr. Américo Santos

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

OS OVOS DAS CÓCÓS...UMA DELICIA QUANDO FRITOS

Embora natural da freguesia de Benfica, toda a minha infância e adolescência, foi passada na freguesia de São Domingos de Benfica, tendo, por perto o Jardim Zoológico de Lisboa, onde, sobretudo nas tardes dos Domingos, era palco no parque infantil, a organização de muitas brincadeiras destinadas aos miúdos em idade escolar.

Recordo que das muitas diversões que os animadores culturais faziam (apanha da bolacha em altura, salto em altura, corrida de fundo aos 50 metros, entre outras) havia uma, onde dificilmente os outros miúdos me ganhavam. Eram as das corridas aos pulos quando enfiado num saco de batatas, cujo prémio, pela participação, dava direito a uma entrada grátis no domingo seguinte. Certa vez, uma dessas corridas foi tão garridamente disputada, que não me apercebendo da corda que ladeava o perímetro, pela garganta sou violentamente sacudido, ficando, por largos minutos, inanimado.

Pela proximidade do Jardim Zoológico ao Bairro das Furnas, quando o vento soprava vindo do norte, já pelo silencio da noite, podia-se ouvir, no bairro, o rugir dos leões, o canto dos pavões, a berraria dos macacos e de outros “habitantes”, que eu privilegiava arreliar, enquanto não começavam as brincadeiras, nessas tardes dos domingos.

Recordo, haver junto à vedação do exterior, dentro do perímetro reservado à pequenada, na frente de uma carreira da plantação das canas de bambu, um conjunto pequenas casinhas, que davam para entrarmos pelas portas, sairmos pelas janelas, brincar às escondidas, etc. onde, despreocupados e alheios a tudo isto, pastavam pequenos galináceos – os “cocós” – cujas fêmeas punham os ovos, em recipientes estratégicos, colocados pelos funcionários do jardim, para que a pequenada não os esmigalhassem em resultado das suas brincadeiras.

Eu, também uma vez tive com eles, com os ovos, muito cuidado e, na hora da partida. Colocados sete ou oito dentro da camisa, lá fui eu disfarçadamente para casa na esperança de os comer fritos, não sem antes levar dois estalos da Georgina, minha mãe, pelo acto praticado. Contudo, não deixou de os fritar. E como soberam bem os ovos das cocós do Jardim Zoológico de Lisboa.

NÃO SÓ OS ADVERSÁRIOS SOFRERAM COM AS VITÓRIAS DO GLORIOSO

Quando morava na Estrada de Benfica, por duas ou três vezes, saltei para debaixo da cama, assustado, quando faziam estoirar foguetes, por vitórias ou inaugurações de eventos, no Estádio do Sport Lisboa e Benfica.

Não foi fácil, no tempo que sucedeu ao regresso da guerra colonial, lidar com “fantasmas”, tendo em conta a sofrida sujeição aos rebentamentos das “morteiradas”, com que eu, e outros, fomos confrontados no aquartelamento em Tite.

No ano de 1970, quatro anos depois das africanizadas impostas acções e… do casório, eu e a Mila, ocupávamos um 4º andar (duplex) no Calhariz de Benfica, situado a cerca de dois mil metros do Estádio do Glorioso.

Para principio ficamos muito bem, o duplex tinha duas assoalhadas, uma casa de banho e a ligação a todo o comprimento do telhado do prédio, sendo o sótão aproveitado: com uma pequena cozinha, armazém das chamadas velharias, e ainda com uma “coelheira” para um ou outro coelho ou galináceo na engorda, para serem “servidos” em melhor ocasião.

Digo isto, para referir que não era difícil, (mesmo resistindo ao pó DDT que cuidadosamente colocávamos no chão, junto à porta que dava acesso ao sótão), impedir que, no quarto, fossemos “visitados”, quase sempre pela calada da noite, por uma ou outra “baratita” ou “ratito faroleiro”.

A exemplo de algumas práticas de familiarização com estes bicharocos na Guiné, esquecendo que dormia sozinho, sonâmbulo, sentia a sua passagem e… calmamente a(s) sacudia(s) para o lado(s) ocupado, na cama, pela minha companheira.

Como é compreensível, a moça não gostava nada destes maus hábitos, ficava aos pulos e “fula” cada vez que levava com um destes bicharocos, mais propriamente com baratas e, fugia em pânico para um dos cantos do apartamento, estorvando o meu sono, mas secundado por fortes risadas ao saber do acontecimento. Irritada já não se deitava sem antes passar “revista à caserna”.

Mas a “vingança” da Mila estava para vir. Em Abril de 1972, quando do jogo para a Taça de Portugal, onde o Benfica venceu o Porto por 6 a 0, a folia e os festejos, já no Estádio da Luz, prolongaram-se noite dentro e, o final de tanta festança foi ao som de fortes morteiradas, que ao acordar, dou comigo debaixo da cama.

Já refeito do susto, a Mila pergunta:… Estás a ver se as molas do colchão da cama estão partidas?...era a vez de ela rir.

Felizmente que a “pancada” não ficou e, a testar isso foram os festejos, naquele Estádio, das sucessivas vitórias do glorioso, e sempre Benfica.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O PRIMEIRO CARRO (II)

A VIDA É UM RASCUNHO DE SAUDADES

Corria o mês de Janeiro de 1971. Dou comigo, ao volante do “carocha”, a subir a Av. da Liberdade em Lisboa. O tempo estava chuvoso, chuva tipo “molha-tolos”. Oiço o “cantar” do carro e acelero, entusiasmado ao verificar que toda a avenida tinha luz verde nos semáforos. Reparo que deixo para trás, alguns dos “borrados” condutores com receios das condições do tempo e do asfalto.

Num ápice surge a rotunda do Marquês de Pombal. Dou com todos os meus companheiros “de route” parados e perplexos, a assistir ao bailado do “Carocha” que ostentava ainda na traseira um “ovo” amarelo indicativo de velocidade máxima de 90 km que me era permitida e avisador para os demais…… “aqui vai um piriquito”. Qual bailado de cisne em tempo de acasalamento.

O “meu”, ou melhor o “bailado” do meu “Pablo”, foi de tal forma que ainda hoje estou para saber como fui parar ao jardim que circundava a estátua do Conde de Oeiras, Primeiro-ministro e Marquês de Pombal. Atolado no meio das flores, não fora a ajuda do jardineiro e de um polícia sinaleiro, creio que ainda lá estaria especado e com os pés lameados perante o riso de gozo dos energúmenos condutores que pelo local passavam.

Esta rotunda dava-me “galo”. Uma outra vez, não muito distante no tempo, vindo da direcção do Saldanha e querendo cortar à direita, em direcção às Amoreiras, ao sair da faixa do meio, um táxi levou-me o guarda-lamas direito, sendo, por mim, recuperado mais à frente, perante todo o trânsito parado, espectáculo desta vez “brindado” com multa e “recheado” de sorrisos dos passantes, gozo que me levou a retirar para sempre o malfadado “ovo” amarelo.

Também quem não gostava muito destas e outras brincadeiras resultantes em amachucadelas, era o Artur bate-chapas e o Arnaldo pintor, amigos de infância que possuíam uma oficina no Bairro da Graça. Bem dizia o Arnaldo (que comigo em miúdo roubava parte das hóstias ao padre do Bairro quando lhe fazíamos o recado à senhora que as confeccionava): Oh Pica dizia ele… de tantas vezes nos “visitares” é melhor mudares de emprego e vires para cá trabalhar.

Na verdade o “defeito não era meu”, à falta de visibilidade do guarda-lamas do lado direito, o carro andava quase sempre batido, ao ponto de sair da garagem com o “Carocha” como um “brinco” e junto ao Miradouro de Santa Luzia, para aí mais mil metros à frente, ainda na região do Bairro da Graça, bater na traseira de um outro carro, tal a distracção ao admirar uma flausina lisboeta. Já era azar!

No entanto, convencido continuava a não haver melhor “volante” em Lisboa e arredores. Vaidoso, lá continuava a buzinar ao som do rugir da vaca.
Como era boa a vida de Lisboa. Quem me dera ter outra vez vinte anos…
Não fui capaz de segurar as lágrimas, dois anos depois, quando por 10 contos (cinquenta euros) me desfiz do primeiro carro.

O PRIMEIRO CARRO (I)

SAUDADES SÓ AS TEM QUEM DAS SAUDADES NÃO ESQUECE

Chegado da Guiné em Março de 1969, das “lecas” que a “miúda” (hoje minha mulher) tinha conseguido amealhar, era minha intenção tirar a carta de condução e comprar um carro, diria mesmo que a vontade era inversa.“Flipado”, dava-me gozo o BMW Iseta de dois lugares, com uma única porta à frente, motor com 569 c.c., atingindo 85 quilómetros de velocidade. À época muito “IN”, com a agravante de um vizinho meu, com um disponível para comigo fazer negócio. Mas qual quê as “isetas” foram outras e as vontades cortada…“ela”, a miúda, não foi em “pancadas”, optando por me convencer no casamento, que três meses depois se realizou.

Querendo refazer a vida, faço-me vendedor de uma fábrica em Vila Nova de Gaia, do ramo das tintas e vernizes, cuja área da minha actuação era, fundamentalmente, a região de Lisboa.Contudo, entregar latas de tintas de variadas dimensões, utilizando os transportes públicos incluindo táxis, não era propriamente o meu forte.

Retomo com muita força a ideia de possuir um carro após o exame de condução e, em Agosto de 1970 finalmente adquiri o primeiro carro…….um “Carocha”.Rapaz de 25 anos, sem dúvidas, convencido de não haver melhor “volante” em, Lisboa e arredores!Como eu ficava bem neste meu carro.

Vaidoso, não me cansava de buzinar (com o som do mugir da vaca), quando as garinas se cruzavam com o meu olhar. Era um fartote de riso, confrontado com os rostos ruborescidos das miúdas.

O carro comprado em terceira mão, arranjado, primorosamente, por um mecânico/bate chapas que trabalhava nas oficinas da peugeot, situadas no Bairro Santos ao Rêgo.

O “Carocha”, veículo salvado, custou-me cerca de 20 contos (100 euros), a cor era azul, a marca volkswagen com motor de 1200 c.c., podendo atingir 140 quilómetros por hora. As rodas estavam colocadas ao contrário para parecerem as jantes, mais largas e dois brutos tubos de escapes, fazendo inveja a qualquer “engenheiro” de tuning à data, o carro estava um espectáculo!
Que bem cantava o “Pablo”, nome que lhe dei, mesmo a baixa velocidade, fazia um “bonito” “roooooommmm”, ao contrário pensavam os “cotas”, ao acordarem pelas duas da manhã, hora habitual do recolher cá do rapaz, no Calhariz de Benfica junto ao Ferro-de-Engomar.

Mas este primeiro carro tinha dois grandes defeitos: o primeiro derivado da “mocada” que certamente levou, tinha o chassis “pescoço de cavalo”, ligeiramente empenado, dando origem, nas travagens, a guinar para a esquerda. Deveras perigoso, em dias de chuva. O segundo, mas este comum a todos, o condutor não conseguia ver o “guarda-lamas” direito, mas os acontecimentos e aventuras, que daí derivaram, são outras histórias.

sábado, 24 de maio de 2008

EM MIUDO TAMBÉM SALTEI AO LAGO


Miúdo, com oito ou nove anos de idade, tinha por habito brincar, com outros também pela minha idade, na Mata de S. Domingos de Benfica perto dos Pupilos do Exercito a três ou quatro quilómetros do meu Bairro das Furnas. A mata era bem bonita, com uma bica com duas saídas de água na rua central onde os passantes enchiam garrafões, as ruas era empedradas e os bancos feitos de árvores. Como eram bonitos os pássaros, mas a fisga, essa, escondida no bolso não fossem os guardas florestais, atentos, confiscarem tão “vil arma” como os vi fazer a outros. Nos lagos (dois) os patos abundavam, espalhados em considerável número os pavões, que inocentemente atrás deles andava, na esperança de adquirir uma ou outra pena que caísse.
Mas o porquê da memória? A escultura que apresento cujo autor desconheço, mas rendo a minha humilde homenagem, fez-me lembrar exactamente o que fiz quando miúdo. Saltar para o lago. Só que o fiz quando estava vazio para lavagem, a ânsia de ver os peixes que se acumulavam numa escapatória bem no centro do mesmo, deu como resultado torcer o pé esquerdo, concertado no Endireita da Esperança, na rua do mesmo nome em Santos, em plena Madragoa. Ainda hoje, quando o tempo está mais frio o dito cujo me dói.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

domingo, 18 de maio de 2008

O 19º ALMOÇO COM O PESSOAL DA TROPA


Ontem, 17 de Maio de 2008, fui com a minha mulher e sogra ao 19º Almoço Convívio da rapaziada que comigo esteve em Tite na Guiné – Bissau nos anos de 1967/69.

É a terceira vez que assisto a estes almoços que são sempre palco de recordações. A linda baía de S. Martinho do Porto estava à minha esquerda, há anos que não a via. Há mesmo muitos anos. O mar, apesar de uma ligeira ventania estava calmo, o sol esse… ia e vinha.

O ponto de encontro foi junto ao Parque de Campismo. A “malta” por volta das 11 horas começou a chegar: uns isolados, mas a maior parte vêm acompanhados das suas esposas, filhos, filhas e alguns, vaidosos claro está, também trazem os netos.

São habituais os gestos com os cumprimentos daqueles que todos os anos fazem questão em marcar presença neste tipo de convívio. Diferentes são os cumprimentos daqueles que há largos anos, por esta ou aquela razão, não tiveram a oportunidade de se encontrarem, não se fazem esperar os fortes abraços, vive-se mais alegria, os olhos lacrimejantes, espalha-se ternura nas conversas que se sucedem.

São 12,30 horas, o organizador deste evento, dá ordem de partida à caravana automóvel ali presente. Salir do Porto é o rumo, espera-nos o almoço no restaurante Nascer do Sol cujos lugares nas mesas têm que ser aumentados, o número das presenças bateu o recorde. Nunca um almoço convívio teve tantos participantes com este, disse-me quem sabe.

Todos se acomodam, nas mesas os aperitivos, vinhos, sumos e cerveja já estão na mesa. Ouve-se aqui e ali o barulho característico das rolhas a serem sacadas das garrafas.

A minha esposa e sogra estão satisfeitas, conversam com as esposas dos meus camaradas José Santos e do Amador. O Contige, antigo padeiro, sentado ao lado da Maria Emília, minha esposa, conversam animadamente, certamente histórias passadas comigo e com ele em Tite.

Pela sobremesa, obviamente, os discursos não faltaram, houve quem cantasse o fado, que declamasse e assobiasse. Cantou-se os parabéns a alguém que fez anos. As palmas, essas, foram muitas. Mas as recordações dos anos 20 em Tite e os “retratos” das suas vidas depois, essas não cessaram todo o momento…….

São cerca das 17 horas, na partida repetem-se os sorrisos e os abraços com a mesma força da chegada, com a promessa que em Ovar – ano do 40º aniversário da chegada de Tite – os abraços serão mais fortes. Se tiver saúde lá estou outra vez. Tenho que abraçar novamente aquela malta. Amigos na guerra, amigos para sempre.